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Nem sempre sou quem escrevo, mas sempre sou quem escreve.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Ser

Sou
(...)
formado de muita gente
misturado com um pouco de eu
que é
formado de muita gente
misturado com um pouco de eu
que é
formado de muita gente
misturado com um pouco de eu
que é
formado de muita gente
(...)

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Sentidos

(Grito)
Deixeu me libertar!
Dos sentidos,
Dos pelotões da significação!
Não dá pra ser assim sempre, essa prisão!
É tudo que tenho sentido...
Pois bem, me rendi,
E todos apontaram as mãos,
As canetas em minha direção
"Esse está louco,
Precisa de internação!"
Essa loucura dos sentidos:
A convergência sanidade,
a conveniência da arte,
Lapidando diamantes
Como se o bruto
não fosse o natural.

domingo, 14 de novembro de 2010

Cláudio

Sabe Cláudio, estive pensando muito nesses dias sobre o significado da vida. Talvez ela seja eterna quem sabe? Sei, isso sei bem, que me bateu uma gastura imensa por talvez não existir também. Você me entende, Cláudio? De que valeria eu entrar no novo emprego, gostar do Felipe, amá-lo, casar com ele, transar com ele, ter filhos, nomeá-los após dois dias de luta ferrenha para escolher o nome: Martim. Martim decerto é um bom nome, e será um bom filho, me mandará para um bom asilo, o Retiro dos Artistas talvez, quem sabe, Cláudio? De que me vale depois disso tudo, morrer? Ao menos quero ver o casamento de Martim com uma menina chamada Isabelle, com dois éles, é mais chique. Mas e se eu morrer antes Cláudio? Se eu morrer sem ver Martim se casar, ou ver minha neta, Vitória, crescendo e rolando sua pequenina bola multicolorida pelo jardim onde plantarei meus gerânios, meus ipês amarelos, minhas tulipas e violetas? Rosas não Cláudio, rosas são horríveis, ainda mais com todos aqueles espinhos, que podem machucar Vitória! Ah Cláudio, deveria também assistir Vitória crescendo, e tendo filhos, e Martim se divorciando - porque hoje em dia casamento não é como o nosso, Cláudio - e Isabelle - com dois éles, lembra? - chorando em meus braços porque ele é um insensível, ele se entregou à cachaça, e agora, como Vitória irá crescer?, e ele está vendo aquela vagabunda da Gisele, não, não pode ser!, chora, chora, chora... faz bem pros olhos, é feito cenoura, toma, toma esse copo d'água com açúcar porque a vida não é romance, minha filha, e é pra isso que existem os filmes. E Martim feliz da vida, ou da cachaça, sempre quando me vê. Enche-me de alegria quando pisa na minha grama e olha, levantando as loiras sombrancelhas, para a minha face enrugada e deteriorada e dá um sorriso de como quem agora é tão experiente - e tão chagado pela experiência - quanto eu. Vitória certamente não se casará, mas terá um filho. Ela até que cresceu bem, pra quem tem pai envolto na cana, e que já fez outra filha com a Gisela, Gisele, sei lá, o Sebastião. Sebastião verá Santa Cecília do Norte e terá de seguir celibato, rezando as missas de minha igreja, com lindos sermões por sinal, enquanto o filho de Vitória, Pedro, deverá crescer em uma nova estrutura familiar - só me assusta, não pode virar afeminado. É Cláudio, me deu uma gastura esses dias. Gastura de quem tem que viver pra sempre.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Sobre a incoerência diária

Há dias em que me sinto incoerente,
E dias em que não.
Talvez nesses, mais do que naqueles,
Exerça com fiel fervor o paradoxo.

Como na luta apostólica,
O que a mente quer o corpo nega:
O que quero fazer, não faço.
É como correr contra si mesmo
E chegar em segundo.

É como o amor que não se merece
(é como todo o amor, se for assim),
Como o sentimento, paixão, vigor
Desperdiçado no que não convém.

Se assim,
Me permito a mim a incoerência,
Pois condiz ao ser humano
Ser incoerente.
Não é?