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Nem sempre sou quem escrevo, mas sempre sou quem escreve.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Moça

Borboleta viva pousou
no meu cabelo e ficou
amarela
feito adorno.

E depois de um tempo, voou.
Na mente lembrança deixou
de verdade.
Que diacho de felicidade.

Duas pétalas de flor
presas por um fio,
acariciando o céu
de manteiga.

Nem deu tempo de dizer adeus.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

A vida dos outros

Bonitão, um amigo meu me perguntou
Esse também é principalmente para
e você meu bem, como está?
Acabou de passar um carro em frente ao meu prédio
Avisa pra sua mãe que ela me salvou
a gente tem que marcar um dia pra ir na associação de moradores
Pra você, na hulmidade
Tô te esperando online!
Como foi na prova?
Tô com saudades e amo você.

Alô

Sim
Som

A paz

A paz está dentro de si
atrelada ao querer simplificar
e ao olhar pro céu e perceber
que não há mundo algum dentro do olhar
e um universo à frente de quem vê
que se reflete pra quem quer notar
É simples demais viver
quando a gente ouve o nosso eu falar
que ainda há muito mais coisa pra dizer
e ainda mais coisa pra escutar
que ainda há muito mais eu-e-você
do que solidão de dor no lar

terça-feira, 24 de maio de 2011

La Fleur

Capturou-o após uma corrida de algumas centenas de metros e era o momento de sua morte. Não importa agora, saber qual era o motivo real de um homem caçar o outro para assassiná-lo a sangue frio, basta saber que era cabível ao caçador o sentimento homicida. Não me entenda aqui por mal o leitor, não acho justificável a morte de ninguém, mediante a nenhum pecado, mas acho compreensível o desejo de matar. Todos nós guardamos conosco o desejo de dar cabo a uma vida, mesmo que essa seja a nossa própria. Foi, e eu pude constatar visualmente, um golpe de sorte. O caçador já cansado adiantou-se e conseguiu, com muito esforço, saltar e agarrar a caça pelo tronco, levando-a ao chão. No solo, a mão do perseguidor beijou algumas vezes a face da vítima. No primeiro soco, fez-se o rubor. Ao segundo, coube romper o supercílio. No terceiro, ouviu-se um estalo, deslocou-se o maxilar, sangrou-lhe a boca enquanto o supercílio tratava de lavar-lhe os olhos de vermelho. O quarto sangrou-lhe o nariz e provavelmente quebrou-o. Estava a sua cara já toda ensanguentada, e seu cabelo já manchado, quando já não tinha mais força para lutar. O caçador, com seus olhos avermelhados e cheios de ódio, sacou uma faca que carregava consigo: Rancou-lhe dedo a dedo, no seguinte protocolo: Furava a caça na parte entre a unha e a carne. Ouvia se um grito de horror. Cortava a fio a ponta, até chegar o osso. Quando o osso se mostrava, passava mais um pouco o fio e dava um puxão, que lhe destacava parte do dedo. Repetia a mesma coisa até chegar à palma da mão, e era quando ele passava para o próximo. Deixou o sujeito sem dedos, depois de uns vinte minutos. Furou-lhe os olhos e arrancou-os da face: Mais sangue na cara do rapaz. Foi quando o caçador enfiou terra goela abaixo da caça e retirou-se.

Voltou dali a vinte minutos com um machado e um martelo na mão. O leitor imagina que iria cortar-lhe a cabeça, mas o ódio era tanto que preferiu decepar as pernas. Primeiro a direita, depois a esquerda. Formou-se uma poça de sangue no chão. Os sapatos brancos do caçador já estavam vermelhos. As calças jeans da vítima, encharcadas. Sacou novamente a faca, e abriu o tórax de cima a baixo. Retirou o esterno a marteladas. Por fim, o coração. Ainda batendo, fraco, em suas últimas. Cortou o coração na ponta da faca. Abriu-o. Dentro dele, uma flor.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Quadro

Cor com cor
Complementar
Tom sobre tom
Combinar
Pode não ser igual
Mas vai ficar
Quando na mesma tela juntar
O azul claro do céu
Com o azul escuro do mar.

domingo, 22 de maio de 2011

Haikai do sol

E se o sol fosse sinônimo de tristeza,
Todas as manhãs seriam depressão.
Mas ele não é.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O gosto do jiló

Peço-te perdão porque de fato não me acostumei com tais histórias, moça. Me falta perceber que é digno sentir, dentro dessa lógica mentirosa. A verdade é que eu sempre soube, mas nunca quis acreditar. E nem quero. Poupo-me das explanações sobre a realidade e como ela não pode me atingir. E já que é pra confessar, e pedir perdão, peço desculpa também por ter tamanho defeito: o de sentir tudo exageradamente. Dói o peito exageradamente, e o sorriso me levita de alegria. Contento-me puramente de viver os dois extremos com qualidade. Abundantemente. É isso, é sentir tudo o que se deve, e sentir o gosto do jiló na boca, e mastigar, mastigar, mastigar e engolir no fim, e o sabor permanecer, durante um, dois, três minutos na minha boca, e permanecer na mente, durante um, dois, três anos da minha vida... enquanto como o doce: Esse sim desmancha na boca quando é realmente bom. E aí, reflete a efemeridade do que devem ser as alegrias em nossa vida. Será que é assim? Comigo não. Ainda sinto o paladar único de cada alegria que vivi. E as opções de bem-estar são como as cores, infindas, cromáticas, todas são! Enquanto a dor se manifesta em si. Com ocasiões diversas, mas é sempre dor. Deve ser esse o motivo de preferirmos os doces da vida.

E se não fosse assim? Se a felicidade fosse monotonia, e não a dor? Ah, talvez todos fôssemos virar um bando de masoquistas mesmo, e iríamos nos jogar aos leões dos sentimentos, e eles nos morderiam até dizer chega. A dor seria alegria, e a alegria dor. Não dá pra escapar do bem-estar, está sempre na quebra da regra, no fim da monotonia... E eu me satisfaço com isso, sabe? Não me dói viver provando dos flagelos e singelezas. Muito mais daquelas do que dessas. Mas justamente por que elas são dores, não é? E sempre se pode dizer algo bom, sempre se pode potencializar a nossa alegria com o fim do mal. É como se quando acabássemos de mastigar o jiló, tomássemos um belo de um copo d'água, e mastigássemos a mais doce das comidas. Abra a boca e sorria, simplesmente.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Resposta

Por mim, pode ser.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Risco de vida

A chuva. Chuva. Chhh. Diz respeito à sonoridade. Silêncio, diz ela. Silêncio. E a cidade obedece, passivamente, esquecendo-se da ganância que derrubou homens nas calçadas debaixo das marquizes. É incrível como a cidade silencia quando chove. E como ela se torna algo nostálgico. Gente corre, do mesmo jeito, carros passam, igualmente, e os prédios são titãs imóveis - como todos os dias. Mas mesmo assim, sobra a dor de quem se encharca. Ou apenas o silêncio. A quietude dá um ar de sobriedade, sensatez, arrisco a dizer sabedoria. E eu espero o ônibus, aqui, embaixo de um toldo. E é incrível como eu me sinto seguro, vai entender. É como se quando a dor me faltasse - a chuva - ela realmente me faltasse: como se me pertencesse, e fosse algo que eu reclamaria até o fim. E reclamo, pois se não, corro o risco de voltar a viver. Pra mim, só pra mim. Dos masoquismos, o amor é o mais singelo.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

gratidão

Deus, obrigado pela chuva
E que ela desça forte
Que amanha não dê praia
Mas que dê felicidade
Mesmo assim

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Tatipirun

Já que tudo é acaso
dentro do que já era esperado
vivo sem saber do amanhã e ando
até lá, já sei...
onde vai dar:
sei lá.

Sei que vou-me, sem mais
pra onde eu sou normal demais
vou-me embora pra lá, rapaz
onde os rios se fecham
e as serras se deitam
pra gente passar.

Chega mais e canta junto
a melodia que ninguém pode imaginar
e, por acaso, surgiu no vento
não existia, agora é
samba no pé.

Vista a camisa, sinta-se em casa
deixe a laranjeira te oferecer fruto
e em flor eu te transformo, já
é de ser
e sempre será

não volte, não
não volte pra lá.
a tua lição de casa pode esperar.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Carta

Que dá vontade de matar, de morrer, irmão, dá. E escrevo-te - já dispensando os cabeçalhos, as localizações, as datas, porque essas coisas já não nos importam mais. Só para constar, encontro-me agora em algum lugar da América do Sul, talvez na Venezuela, talvez em outro lugar. Sinto saudades dos tempos que passávamos juntos e pensávamos sobre as questões essenciais da vida. Como a vida é complicada. Por demais descobri que as paixões são pequenas perto da vida e do mundo que é tão grande e cheio de pessoas. Em breve voltarei ao Brasil, para podermos conversar um pouco mais. E daí não sei pra onde vou, mas irei. Amor, irmão. Amor.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Nu

Sempre me intrigou estar nu.

nu, de descoberto.
nu, de significado.
nu, de descoberto,
ou simplesmente pelado.

Poema das duas (para minha mãe)

Queria mesmo era ter o poder
de arrancar do teu peito o mal
e colocar no lugar dos flagelos, presentes singelos.
No lugar das dores, flores.

Pois é você quem me viu crescer.
Ou, já me criou em ti, crescido,
e grande sucesso obteve em perceber,
que eu era tudo o que você esperava.
(tirando alguns probleminhas)

E hoje eu vivo assim, após me perceber.
Correndo pra me ver em você.
Amando pra querer tirar
do seu peito o mal.

Um sorriso de quem ama igual.
E continue a acreditar nos outros,
pois os corretos de vida
serão tudo o que você esperar.
(tirando alguns probleminhas)

E, da vida final, há de chegar...
Não se preocupe se é cedo:
É só amar.

terça-feira, 3 de maio de 2011

#5

na tv há um caso de amor.
ah, um caso de amor.
na tv há um suspiro de dor.
ah, um suspiro de dor.
Como se fosse tão fácil viver...
faça o viver...
Dá impressão de ser impossível viver...
e é possível viver.

Então, traga-me outra caneca de café
e deixe o dia acordar, amanhã, quem sabe?
Mas é só viver, sem ver,
te vê,
te ver.