Minha foto
Nem sempre sou quem escrevo, mas sempre sou quem escreve.

domingo, 23 de dezembro de 2012

No aeroporto

No aeroporto
Passa tudo
Menos o tempo
Morto

No céu
Não passa nada
Muito sonho junto
Mudo

No chão
Passo é tudo
Tempo e sonho
Morro e mundo

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Fotografia #3

Quando fazemos parte da história nos permitimos a melancolia secreta, para muito além da compartilhada. É como se quiséssemos, numa empreitada fútil contra o nosso ego, vangloriarmo-nos do prazer passado. E como ser humano, gosto de admitir que o sabor disso é admirável, talvez algo quase tão gostoso quanto a memória em si. É doer, as vezes, por viver um momento menos favorecido, ou é admirar a beleza do passado como uma obra de arte em desuso, mas com valor afetivo. É quase agridoce, é algo quase doce.

Espero que tudo o que passe saia de mim para admirar mais a frente, no caminho. É uma das formas de vencer a mim mesmo. E espero que tudo o que é belo permaneça, seja no momento, seja na memória do aprendizado.

sábado, 20 de outubro de 2012

Sinal

Tamanha é a idéia perto do corpo:
abre o olho, chega mais junto

lá, onde a gente se forma,
tudo se cria, nada se transforma
lá, é o fim do embate
onde tudo se encontra
posso te chamar do que eu quiser

vou entender tudo o que é sinal.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

#9

(palavra)
( palavra )
(  palavra  )
( p a l a v r a )
(  p  a  l  a  v  r  a  )
(    p      l     v      r    )
(       p      l     v            )
(            p     l                   )
(                  p                     )
(                                               )
(                                                                     )
sentimento

domingo, 23 de setembro de 2012

Deixa, Deus

sou a gaivota que voa lá no alto
soa barulho, chocalho
a toalha sentada no chão

sou a pegada na areia
em meio a tanta me apego
posso ser apagado

me comprometo...
prometo, prometo...

deixa eu te abraçar e deixar de saber
o que é meu e o que é seu
mexo o seu pé
seguro a minha mão
bombeio sangue pro seu coração
Deixa, Deus.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Lembrete (para Rebecca)

o nosso amor é mais bonito
quando dá os passos que deve
e quando tropeça, vez em quando
é bom que se lembre que ele existe
e pra acertar os próximos passos
é bom que se lembre o cuidado

por isso, usa esse pouco que tenho
pra lembrar do que temos vivido
a fim de o que a gente tem sentido
faça sentido ao lembrar (parecer) o Amor
de quem nos deu de presente

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Hugo chorou

Ele chorou quando viu Scottie vestindo sua namorada como Madeleine. Chorou quando ela morreu. Chorou quando o filme acabou, sem mais nem menos. Na verdade, chorou quando ligou a tevê. Hitchcock era mais drama que qualquer outra coisa, pra ele. Lembrou de quando tentou vestir Luisa como quis. Lembrou dos traços que a deu: com o simples olhar diminuiu seu nariz, afinou o quadril. Vestiu-a com um vestido longo em forma de presente. Amou-a como a nunca outra qualquer, pois era sua criação. Talvez seja por isso que Deus, na sua magnitude, nos ama tanto: somos molde dele. Luisa não, não era molde de Deus, não mais. Era molde de Hugo. E ao finalizar a sua obra, ele chorou. Chorava agora por não ter mais a quem vestir, como o detetive do filme.

Hugo era sensível, tamanha a sua brutalidade. Como se um gigante carregasse uma margarida em seu paletó. Ele não chorava sempre porque estava triste, mas sempre ficava triste quando chorava. Triste porque não havia jeito, era doente: desde menino não conseguia piscar os olhos, e a luz lhe irritava mesmo por trás dos oculos escuros. Chorava discretamente o dia todo, e isso lhe agravava o temperamento forte. Só Luisa o aguentava, fruto de suas carências ou de um amor que só poderia ser presente divino. Para ela, a aparência não existia, para ele, era o mais importante.

Hugo ainda chorava, na cozinha, ao cortar as cebolas. Hugo ainda chorava ao tomar banho.

Luisa, desde nascida, era cega. Mas não era culpa de quem a fez, a culpa era de Deus. Não sabia e nunca soube apreciar o trabalho magnífico de Hitchcock. Encontrou Hugo numa biblioteca e de pronto, apaixonou-se. Frequentava as bibliotecas e livrarias porque adorava os livros. Comprava-os pela textura da capa, sentia através do dedo cada página. Entrelaçava-se com as histórias que os poros do papel contavam. Sentia a tinta. Havia lido Moby Dick, Dom Casmurro, Huckleberry Finn... seu preferido era um de Garcia Márquez. "A capa mais sedosa que já senti na vida". Apaixonou-se por Hugo porque era Garcia Márquez legítimo: Sua textura era diferente ao passo das lágrimas que caíam e molhavam suas bochechas e sua barba cheia.

Um dia Luisa abriu os olhos, como toda a manhã fazia. Só que dessa vez avistou Hugo. Avistou o quadril que não era dela, seu nariz diminuido. Olhou o vestido que não lhe pertencia. Luisa chorou porque a luz a irritava tanto quanto a deixava triste. Os livros perderam todo o significado. As texturas foram sumindo do rosto de hugo. Tudo que era palavra se desfez, em poucos segundos. E Hugo nunca mais a viu.

Hugo chorou.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Saudade

Só nos é permitido sentir saudade.
Além disso, nada fazemos propriamente.
Se desejamos, é porque sentimos saudade;
Se fazemos, é porque sentimos saudade;
Se terminamos, é porque sentimos saudade:
Saudade do que ainda não se fez,
saudade do que se está fazendo,
saudade de não fazê-lo mais.
Quanto a tudo, saibamos lidar com a saudade.
Caso contrário,
visto que no peito mora:
Vez morremos por dentro,
Vez morremos por fora.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

A queimadura da mão esquerda (20 anos)

Será que somos tão adultos, mas tão adultos, a ponto de olhar pra trás e não perceber quem fomos?

Sério, a minha eterna dúvida é se essas crianças mais novas tem alguma semelhança com quem fui. Talvez seja uma crise minha, dos (irrisórios) vinte anos, mas é algo que não dá pra ignorar. Ontem mesmo vi uma molecada correndo e implicando com as meninas. Quando perguntei alguém sobre a idade daquele pessoal, recebi a notícia: dezoito anos. "Será que eu era assim nessa idade, tão imaturo?" Foi a pergunta que eu fiz a mim mesmo.  Mas na verdade, a pergunta que eu deveria ter feito era se daqui a dois anos não vou me encucar com a mesma questão.

Quando eu tinha dezoito, fiquei meio tonto de cerveja - não julgue meus dezoito anos! - e queimei minha mão enquanto ia fazer uma lasanha. Foi uma cena esquisita, salvei-a de ser cômica só porque ninguém viu, eu estava sozinho. Pus a mão pra pegar a lasanha e o lado de fora dela encostou numa parte do forno, e aí rolou aquela típica dança da chuva na qual você abana a sua mão enquanto dá pequenos saltinhos esperando realmente que aquilo alivie a sua dor. A queimadura fez uma marca, que desapareceria em breve.

Será que a gente é tão jovem, mas tão jovem, que a gente não percebe quem a gente tá virando?

Porque eu lembro que quando eu tinha uns nove, dez anos tinha um rapaz da igreja que estava fazendo festa de aniversário depois do culto, e a sua idade, no bolo: dezoito anos. Já ia tirar a carteira, ia comprar um carro, já estava na faculdade! Faculdade, juro, coisa de gente grande mesmo. Pra mim, com dez, dezoito era a idade da vida, era a liberdade, a época em que os seus pais deixariam você fazer tudo.

Uma vez, quando fiz três anos, perguntei a minha mãe na véspera do meu aniversário se no próximo dia eu iria crescer. Essa história é motivo de risada, pensamento de criança, ingenuidade. Mas o pensamento persistiu, porque quando eu fiz dezoito, um dia antes a minha esperança era a mesmíssima: amanhã seria alguém livre, alguém dono de si, todo adulto. Ia até poder comprar revista de mulher pelada, se quisesse. Eu tirei carteira um ano depois, com dezenove. Eu não comprei nenhuma playboy. Eu não tinha um carro. A faculdade nem era tão bacana assim e minha mãe não dormia até eu chegar em casa: o horário pra chegar era, pasmem, onze e meia. Eu ainda tinha três anos!

Hoje eu olho pra minha mão esquerda e pros meus vinte anos. Eu ainda tenho três, ainda tenho quinze, ainda tenho dezoito. A prova disso é que a marca do forno, que eu achei que ia desaparecer, permanece. E agora creio eu que ela ficará aqui a vida toda, um risco escuro que me remete à uma "imaturidade". Talvez ela cumpra a função de lembrar que a gente não muda de idade, a gente acumula. Faço vinte anos na esperança de que tudo mude. Quem sabe dessa vez, no virar do dia? A felicidade  mora em saber que simplesmente percebemos o mundo de acordo com o que tateamos, com as queimaduras que adquirimos, com as alegrias que passamos, sobretudo, com as perguntas que fazemos. Enfim, essa coisa toda de crescer pra ser mais sério é maior balela.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Moreira César

as ruas se cruzam
caminho das casas
os prédios se entornam
formando calçadas 

pessoas, vitrines
cadeiras nos bares
planejam as rotas
preenchem lugares

um beijo
a gente se encontra
no meio da estrada

com nomes estranhos
histórias antigas
eu nunca decoro
quem já não tem vida

desenhos acusam
os pontos guardados
se tornam encontros
até nas memórias

um beijo
a gente se encontra
no meio da estrada

um beijo
em alguma esquina
a gente se esbarra

mesmo que o sorriso
seja breve
vai ser bom te ver

terça-feira, 19 de junho de 2012

#8

no momento que é sentir,
o olhar me desvia:
não sei se rio
ou se bahia

sábado, 16 de junho de 2012

Jornada

Alguém morreu
gostaram, até
se era bandido eu não sei, a perícia foi verificar

Virei papel
cheguei aqui como luz solar
sozinho mas sempre precisando de alguém

Se você quiser, pode me ler
sou como um livro, só que feito de realidade
Carrego o meu mundo debaixo do braço
meço, peço, enfoco, faço

E o ocaso de tudo
no caso de não me rasgar
mato as moscas no café da manhã
embrulho a prataria no jantar

terça-feira, 29 de maio de 2012

#7

"Quem me dera sair dessa caverna e alcançar o grande parque de diversões que é lá fora. Onde tudo o que se quer, se faz, e onde o significado é um só. A perfeição nos rodeia a todo instante, a perfeição está presente em nós - toda ação que planejamos, mesmo que em fração de segundo, instinto, visa a perfeição. Acertar na mosca, ser perfeito para o bem ou para o mal. O problema é que o mundo não nos permite esse grau de maniqueísmo e tudo o que fazemos, inevitavelmente, cai pra fora do pote. A imperfeição está em cada gesto, e a perfeição, em cada vontade."

Resumia-se a buscar a perfeição naquilo que era, nas suas vontades, bom e amável. Resumia-se, eficazmente, a morrer tentando, e errando, e corrigindo. Acabou simplesmente, sendo amado como um gigante.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Jorge e o fim

- Somos apenas corpo?

Essas foram as primeiras palavras que sairam de sua boca e entraram em meus ouvidos. Aliás, sempre te respeitei pela sua introspecção, sua capacidade de pensar, unir, aprender, aplicar e no fim, simplesmente sorrir. A vida foi mais generosa com você do que comigo, Jorge. Eu preciso falar demais, narrar a sua história para me resolver comigo mesmo. Ainda mais agora que você está aí, deitado. Não, não somos apenas corpo, rapaz. Somos alma. O corpo é só aonde você dorme. O corpo é a cama da alma. E agora você está aí. A cama de sua alma nessa cama, um lugar que não esperava ver você tão cedo ocupar.

- Onde começa o mar...

E onde termina a cidade? Eu sei, lembro bem de quando isso começou, de como você estava. Infeliz, infeliz. Quantas vezes você chorou ao abrir as janelas? Já perdi essas contas. A verdade é que sorriu umas outras incontáveis vezes ao ver que icaraí brilhava, convidava todos a caminhar no calçadão. E agora você está aqui, sem ver. A maresia corroeu seus cuidados, bem como enferrujou suas ligas, refrescou seus pensamentos. 

- E a gente se encontrou...

Em forma de canção. As canções que tocavam na vitrola. Foi ruim ver você decepcionado, Jorge. Ver que os timbres e as harmonias não eram reais. Mas eu estava lá, sinfonicamente, se é que essa palavra existe. Tantas coisas emanam de você, rapaz. E agora você está aí, sem poder cantar, sem poder emanar uma nota sequer.

- Onde termina o dó...

E começa o ré? E a vida vai nos jogando e vamos resistindo, explodindo em cores, subindo, descendo, indo, voltando, nadando contra a maré. Você foi forte demais! A pessoa mais feliz que já vi. O homem capaz de retornar da resistência e voltar a ela com simplicidade e versatilidade. Um acerto sem mácula. Caminhando em direção ao que se chama felicidade. Ao exato ponto entre o ceder e o resistir. O que chamam de fantasia, o que chamam de céu.

E agora você está aí. A linha do monitor de batimentos cardíacos já não oscila. Não te joga pra cima, nem pra baixo. Está no exato ponto entre a sístole e a diástole. Não sei chorar, Jorge, sei apenas lembrar. Sei aprender, sei falar. Agora que você atingiu a fantasia pode me ensinar o dia que nos encontrarmos, como é maravilhoso chegar aí. Não esqueça de comentar: "o céu de fato se parece com aquilo que nós não conseguimos imaginar". Agora vou indo, pois não há mais sentido em falar com você. Agora você está lá, se realizando. O corpo ficou e você foi embora. Morreu.

sábado, 12 de maio de 2012

Dá-me de viver

dá-me de viver
porque a água já não me basta
a comida já não me atende

dá-me de viver
porque o caminho já não tem sentido
o sentimento já virou verbete

dá-me de viver
porque o sonho é apenas sonho
porque o cimento agarrou os pés

dá-me de viver
porque viver é o perfeito equilibrio
e já que me esmero, insisto:
dá-me de viver
se não, morro.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Acordar (ou "O nome das coisas")

É necessário saber separar as coisas que se fundem em uma só. Até porque se compõem, são por si mesmas, e assim, compostas de outros itens que podem ser apenas repetição do que a coisa é em si. Um elemento químico tem átomos e os átomos eletrons, e os eletrons - até onde se sabe - são compostos de eletrons, que são compostos de eletrons...

A verdade é composta de sentimento [?]

Aliás, a verdade é meramente o significado. E o significado incorreto é a mentira, o lugar que se desvia do que é realmente fato. "Ah mas o fato e dependente do ponto de vista e por isso nao existe verdade absoluta mesmo embora isso seja uma afirmaçao falaciosa somos seres deturpadores e nada nada nada e puramente como vimos, que visao maniqueista das coisas"

Ele acordou.

A-cor-dar: verbo. Um verbo é composto de palavra. E a palavra é composta de que? De palavra? A verdade é que a palavra pode ser composta de verdade, ou de mentira.
O verbo tem o mesmo "ver" de verdade, e a mesma força de uma calúnia.

A palavra é composta de significado.

E o significado é ser verdade ou mentira, bom ou ruim, preto ou branco. Mas o que será ser? Será que o ser se resume à vontade? À sentimento?

O sentimento está tão próximo do significado... a verdade está tão longe da palavra...

Ele acordou e não lembrava mais de nenhum nome, de nada. Havia batido de carro, talvez, talvez tivesse tomado remédio demais, talvez tivesse arranjado uma concussão sabe-se lá onde. Mas ele não lembrava mais do nome de nada. Seu pai parou na frente dele, sua mãe. Ele sabia quem eram, e os amava como nunca, mas não sabia dizer. Fazia sons com a garganta, apontava, dali a pouco começou a repetir o tom dos apitos do aparelho médico, a respirar fundo, a tentar gritar todos os palavrões que conhecia, mas ele não sabia mais nenhum. Ao se deparar com a total falta de palavras, chorou. E aos poucos, aceitando sua condição, foi emudecendo, observando, e reaprendendo o som de cada palavra que havia no mundo, e a fundindo com verdade, com significado, com todo o sentimento de um choro. Para ele agora as palavras faziam muito mais sentido, muito mais som, eram muito mais categóricas do que antes. Agora ele sabia separar o que se fundia em uma palavra só: A-cor-dar.

sábado, 21 de abril de 2012

Luis Antônio e a japonesa

Olhos austeros e coração sincero
Quero me jogar no chão
Com esmero, pelo menos eu espero
Recompensas no Japão

Eu não sei como cheguei aqui
Se foi de trem, de barco ou de avião
Eu só sei que é tão lindo
é terra de nipon

Luzes espectrais, as tais das capitais
Um som ensurdecedor
Olhos inchados, apertados do meu lado
De não dormir por amor

Eu não sei como saí dali
Eu não sei como voltei pra dor
Eu só sei que foi tão lindo
Na terra de nipon

Eu não sei como me apaixonei
Eu só sei que tive seu amor
E de fato ele foi lindo
Como a terra de nipon

domingo, 15 de abril de 2012

Tudo mais

Qual a diferença entre a lapa e la paz?
Qual a distância entre a rapa e o rapaz?
Qual a validez: a façanha ou quem faz?
E tudo mais.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Parafina

Para Rebecca, uma canção, com as cores do presente dado.

Faça do meu medo minha experiência,
para que eu possa lembrar.
Lembro porque esqueço,
esqueço porque venço:
pois decidi caminhar.
Lenço de pano no ar
(de todas as cores).

E desse tamanho, fácil te carrego:
pra proteger e cuidar.
Ter experiência
na oculta ciência
de abraçados andar:
os passos sincronizar.

Meu chinelo branco, sujo como a terra.
Seu sapato azul, que é da cor do céu.
Que seja leve.

sexta-feira, 30 de março de 2012

A tentativa

Coloquei meu violão em cima da flor,
pra ver se o amor perdia sua validez.
Aconteceu, que de repente pra decepção (ou não),
o amor se fez, tomou a frente em forma de canção.

Não pude lutar, e tudo o que é pesado no meu fardo ficou fugaz.
Parece assim tão vil o amor se impor, mas na verdade só me enche de paz.
Demais.

sexta-feira, 9 de março de 2012

a carne e a fala

a carne e a fala
o pé e a bola
o bom e a vontade
o pão e a esmola
o amor e a liberdade
o assopro e o vento
o sincero e o tempo
o momento e a verdade
a criança e o futuro
o idoso e o presente
o não-ser e o pretérito
o ser e o inexistente
o corvo e o susto
o aperto e o desejo
o coro e a estrofe
a ponte e o carro
a fala e a carne

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Embriaguez

A embriaguez da alma é repulsa
dói, corrói e expulsa
de forma ingrata
aquilo que não muda nada

um sacrifício por muitos é martírio
dos mais belos olhos, sóbrios, saem...
mas uma entrega sem motivo, desnecessária
torna-se tolice irremediável

a todos os que embriagam suas almas
resta o sono respeitoso do poeta
que versa de vagar por aí
com os olhos pesados de vinho
sem ninguém machucar

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Jorge e as oscilações

Talvez a vida faça pouco caso da gente. E quando a gente resolve surpreender, não ligar, as cores explodem e saem da nossa cabeça como um jato, colorindo tudo o que é disforme e está em volta. A boca se projeta, o queixo toma forma, os olhos não são mais escondidos pelas sombras. Estaríamos diante aqui, do momento entre o ceder e o resistir. E as duas coisas caminham juntinhas, Jorge. Um homem que cansou de ceder está prestes a resistir. E o que já resistiu muito está prestes a ceder. E a vida oscila devagar entre cansaços, e nos joga pro alto como os mendiguinhos jogam os limões no sinal.

- Você está muito perto do céu.

E eu me lembro da ultima canção que você escutou, a nostalgia, as lágrimas cedidas, o encontro com algo desagradabilíssimo. Você desabou, com certeza. Desabou e eu não esperava menos de você. Pelo contrário, esperava mais, esperava que você se jogasse do décimo sétimo andar, lá do alto do céu. E é de gente assim que a vida faz muito pouco caso, meu amigo. Mas agora veio uma alegria inesperada, fruto de um esforço tranquilo e, ao mesmo tempo, feito com a agonia de contar com a sorte. É hora de sorrir sem esquecer o que já se passou. É bobeira colocar o disco arranhado duas vezes na vitrola.

- Você está colado no chão...

E qual é o exato ponto entre o alto e o baixo? Onde termina o azul e começa o verde? Onde termina o dó e começa o ré? Esse exato ponto é a fantasia, Jorge, o fim da oscilação. Onde as coisas simplesmente não importam. É um lugar que ninguém ousa achar. E a vida faz pouco caso de nós, porque de fato, não encontraremos aqui. Mas a felicidade vem de saber que esse ponto existe e de que se pode caminhar pra lá. É ir em direção a resistência, voltar de onde se foi, girar meia volta, volver. E agora vejo você caminhando na felicidade, amigo. Que belo ser humano você se tornou.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

#6

sentimentos são atitudes.
Uma atitude é fruto, e ao mesmo tempo,
o sentimento em si.
Palavras são   potencializadores
do sentimento,  da atitude.
Palavras são potencializadores
das faltas
de sentimento, de atitude.
Os sentimentos não podem ser descritos por palavras,
apenas ajudados:
a palavra em si é vazio.
oco
incapaz
preenchemos como queremos as palavras,
como o recheio:
 recheia o bolo.
Não se deixe enganar 
pelas palavras.
Engane-se pelos sentimentos.
Será a forma mais sensata de errar.
E se ouvir alguma palavra que toque,
transforme-a em sentimento.
Quem a falou também sentia.
E se não sentia?
Hipocrisia 
-ia
-ia
Palavra sem atitude, 
é palavra vazia.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

quando se perde a poesia

Quando se perde a poesia
                                           se desalinha
                    o mundo
a poesia
é como 
consciência
com
ciência
quando se perde a 
  poesia
o corpo avisa
                                              quando se peca
                         a mente esfria
                                   sem poesia.
                                                                       e quando for certo o caminho,
logo aparece.
a proesia apruma
a poesia cresce.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A canção que fiz pensando e escolhendo

Deixa o sentimento sair,
seja em qualquer forma de expressão.
Arte - cores ou palavras,
tudo é linguagem-emoção.

E se você me chamar eu vou,
vou em forma de canção.

(Pra dizer)

Tudo o que eu não fizer,
delimita a minha ação,
e eu faço o que quiser,
na conveniência da obrigação.

E se você me chamar eu vou,
vou em forma de canção:

O som que corta o ar
e o espaço entre as notas da canção
é o silêncio que exprime a intenção de dizer, de falar, de fazer...

O som que corta o ar
e quem não escutar essa canção
as notas que eu não pus na intenção de dizer, de falar, de fazer...