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Nem sempre sou quem escrevo, mas sempre sou quem escreve.

domingo, 22 de novembro de 2009

José da construção

josé com toda a sua sapiência
Se gabava do norráu,
Norráu em construção.
Construiu descuidado
um alicerce enfraquecido,
e a casa vêiau chão,
e o norráu vêiau chão.
Indenização.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Digo não

Escondo minhas músicas por aqui nos meus rascunhos, mas decidi soltar essa aqui:


Enquanto você bate o pé
Enquanto marca a canção
Eu tento procurar um jeito
de dizer direito que te digo não

Enquanto você bate o pé
Enquanto você diz que não
Eu tento procurar um jeito
de fazer direito uma contradição

Tão dizendo que você
Fez esse sapato duro
Pra assustar meu café
enquanto a minha fé
estava sobre o muro

Tão dizendo que você
Fez esse sapato duro
Pra assustar minha fé
Enquanto meu café
com leite ainda está puro

domingo, 8 de novembro de 2009

O Balão Verde

Enquanto andava pela rua, encontrei perto da calçada suja, amarrado num poste, um balão. O Balão pedia liberdade, cintilando o seu verde e balançando a favor do vento, mas trêmulo, como se quisesse ir ao lado oposto. O balão estava em conflito. A rua vazia. O vento levava o balão verde para onde queria, fazia dele o que ele queria. O balão resistia, tremia, amarrado pelo cordãozinho ao poste enferrujado e que não dava mais luz. O vento mudou de direção. Então cri que agora o balão estaria contente, pois ia para o local onde desejava, mas não. Sacolejou novamente, intentando contra o poder maior do ar. Decidi intervir. Senti pena do balão. Sou mais forte que o vento, e imponho-lhe respeito, consigo romper a sua força com tamanha naturalidade. Desatei então, com um pouco de dificuldade, o nó apertado da linhazinha que prendia o Balão. Agora sim. O balão subiu como se estivesse sorrindo, partindo para onde ele realmente queria, para onde não o vento, mas apenas o hélio dentro dele podia o levar. Foi feliz, brilhando o verde da esperança. E eu observei aquele balão subir e diminuir de tamanho cada vez mais, e comecei a me sentir feliz por abolir a escravidão daquele objeto. Porém minha felicidade não durou tanto: O balão, quando quase saia da minha vista, estourou, e a gravidade o trouxe, estourado, até o asfalto quente. Sobrou apenas um projeto de borracha verde, morto, derretendo no asfalto.

sábado, 7 de novembro de 2009

Mais Hai Kais

1

Ah, as flores
Tão murchas que mais parecem
dores

2

Ai, as dores
tão interpretadas que mais parecem
flores

3

o amor é colorido
se estiver em preto e branco
é amor desiludido.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Hai kai

folhas verdes
só se destacam
no jardim amarelo-ouro

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O jovem e o monstro

Tal escuro era o dia que o jovem se achava com medo, e era a única vez que sentia isso após os seus oito anos, há oito amadurecidos anos, quando se encontrava na cabeceira da cama de sua mãe. Depois dessa, não havia mais sentido medo de forma alguma. Havia se deparado com siuações perigosas no entanto, como na vez que fora assaltado em um sonho, ou quando viu sua mãe morrer, em pensamento.
Mas aquele dia metia medo em qualquer um. Era o dia em que as nuvens escondiam o azul do céu, num cobertor de algodão encardido e empoeirado, que não deixava passar a luz confortante do sol. Os grunhidos eram de um monstro gigantesco, voador, que alcançou os céus e voava por cima da crosta nublada, procurando atacar os transeuntes descuidados. Esse era o monstro mais temido pelo jovem. Não havia o encontrado há muito tempo, por que onde morava era seco, de solo rachado, o céu quase nunca se escondia e a vegetação cactácea, segundo ele, produzia a água que bebia quando não havia mais nada em seu reservatório. Estava lá, novamente, veio para atormentá-lo, o monstro gostava de chamar a atenção de todos, quando passavam e ouviam os seus rugidos aterrorizantes, corriam para a segurança de suas casas. Tal correria era fruto da mente do jovem também, pois nunca havia visto pessoas, a não ser a sua família, e o chefe de seu pai, um homem gordo, farto, com um bigode e um chapéu branco. Ele sim, era aliado do monstro. Tinha um olhar terrível de quem domina sobre os outros, e não os considera. Sim, sim, essa era a atitude de quem gostava do monstro. O jovem então, não se assustou tanto, quando o seu pai, ouvindo os barulhos ensurdecedores do monstro, levantou-se da sua cama e partiu sorrindo em direção ao quintal, sorrindo e agradecendo, como quem encontra um velho amigo. O monstro era amigo de seu pai também. Ele trabalhava para o homem do bigode, então tinha que ser simpático com aquela máquina assassina. O menino então percebeu, que o monstro não era confiável. Pois fez cair a chuva torrencialmente, e rugindo, soltou de ímpeto um raio na cabeça de seu pai, matando-o de imediato. Sua mãe chorou. Ele não podia chorar, então sua mãe chorou também as lágrimas que lhe pertenciam. O enterro foi no domingo. O monstro já havia ido embora, e o sol voltou a brilhar. O homem do bigode pôs o jovem e sua mãe para fora, sem rumo, à mercê do monstro.
Trinta anos depois, morre João Cavalcante Martins Filho, o menino, num dia nublado, embriagado, estraçalhado. Havia pulado da cobertura de um prédio no Rio de Janeiro.
Ele queria matar o monstro.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

De poços e poças

Dos poços, só no fundo
a umidade molha a língua
da humildade
de quem se prostra, face ao chão.

Dos poços, só no alto
se encontram os que olham,
e dos que estão ao fundo, humihados
Riem.

Dos poços, nas paredes
as pedras lisas e molhadas,
que evidenciam que não há
escapatória não divina.

Dos poços, o seu vácuo,
o ar que preenche o lugar
que deveria ser
água.

Dos poços, esses todos,
os que trazem alegria,
são os que Transbordam,
e são poucos.