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Nem sempre sou quem escrevo, mas sempre sou quem escreve.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Um dia de amanhã

Um dia
só um dia
eu vou ter um desejo
e aí eu vou pedir
mais um dia
e mais um desejo
pra pedir mais um dia
e um desejo
e assim viver
desejando
almejando
esperando
alcançando
e morrendo
(com os dias)
até desejar
almejar
alcançar
o dia seguinte
que é o dia da morte
e ponto
sem desejo
sem dia
sem noite
só ponto
e morte
e fim.

É necessário
viver o amanhã
pois o amanhã existe
no hoje
no desejo
pois sem amanhã
não há hoje
não faz sentido
caminhar
desejar
almejar
esperar
alcançar
pois sem amanhã
o hoje
seria o ponto
e a morte
e o fim.
mas não é
tem depois
reticente eternidade...

domingo, 27 de março de 2011

Boa Noite

E se o caminho é desistir
na mais digna oportunidade,
ninguém dirá
que és covarde.
Anda, desista,
pois desistir é se encantar
por outro caminho e prosseguir
perder o canto e cantar:
"Não consegui."

Então boa noite, irmão.
Se a dor é inexorável,
mas você prefere caminhar,
mesmo que devagar,
não diga que eu não disse:
"Boa noite."

sexta-feira, 25 de março de 2011

Reencontro

E lá estavam os três, depois de tanto tempo. Cada um tinha ido pro seu canto, escolhido sua rota, seguido o caminho que levara até ali. Um reencontro tão casual, mas tão casual, que chegou a ser extraordinário. Fabrício e sua esposa, Alice e o noivo. Dante permanecia sozinho, muito por opção, muito por empecilhos da vida. Há muito não se viam: da última vez, estavam todos alegres e muito menos maduros, porém muito preocupados, e agora as preocupações não mais os aturdiam, com a pena de estarem menos alegres. A conversa foi regada a novidades e a suspiros, risos e lembranças. Todos estavam espreitando a felicidade alheia. Não era mais a mesma língua falada, não era mais o mesmo agora vivido. Mas o olhar era o mesmo, indescritível, que dizia que apesar do tempo, o amor ainda vivia, e que mesmo sem ter jeito na conversa, a felicidade emanava em energias, unia as cores e auras numa explosão de luz alva. O verde de Dante, que sempre esperava o amanhã. O azul sensato e calmo de Fabrício, e o vermelho-paixão, faminto de Alice. Eram um só. Que reencontro.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Move vento

Quando há sincronia
Entre o flutuar das nuvens
E o balanço das palmeiras
E ameaça a chuva
Respingar na lagoa
Inclinada e serena
Transpassando os guarda-chuvas
Fazendo-nos correr
Contra ou a favor
E molharmos-nos todos
Contra ou a favor
É sinal de que o vento
Quer ver movimento:
Contra ou a favor.

sexta-feira, 18 de março de 2011

O porquê

Quando esperar é preciso, que não esperemos o cedo.
Quando o futuro é incerto, que não paremos com medo.
Quando a surpresa chegar, saberemos o incerto.
Quando o saber se fizer, valeu-se o medo.

Quem chegar primeiro, pode não ser vencedor.
Quem de fato o é, procura viver o amor.
Quem de fato ama, chega onde deve chegar.
Quem de fato chega, não se importa com o lugar.

Onde é o lugar, talvez ninguém saiba.
Onde vou chegar, é fruto dos passos e pés.
Onde vou andar, é chamado de caminhada.
Onde é a estrada, talvez seja o destino final.

Como vou estar daqui há cinco anos?
Como vou estar daqui há cinco minutos?
Como vou confiar no que se chama futuro?
Como vou mudar o que não vejo no escuro?

O porquê, sei lá.

quinta-feira, 17 de março de 2011

É Mentira!

Gritou a menina:
"É mentira!"
Pulo de lá e de cá,
Grito, quadrilha,
pra algo que não existia.

Olha o amor em dois dias!
"É mentira!"
Dessa vez ninguém pula,
ninguem dança, rodopia.
O dinheiro de volta
era o que todo mundo queria.

Olha a mentira!
"É mentira!"
E todo mundo virou cabide,
porque não sabia o que era verdade,
o que era vaidade.
Era dia.

E, quando baixou a noite,
num ultimo suspiro
grita a menina:
"Chegou a alegria!"
E a quadrilha já tinha acabado,
a fogueira já tinha apagado.
"é verdade."

segunda-feira, 14 de março de 2011

Colcha de Palavras

Agora, de noite,
junto todas as minhas palavras
e envolvo-me nelas,
como num grosso cobertor.

Se preciso delas para aquecer-me
é porque mal me acostumei.
E essas palavras tornam tudo ambíguo.
O tempo. Não sei se é muito
ou pouco.
(Lemos como aprouver)

Se o tempo é muito,
que maldade!
Como se tomar as palavras por rotina
fosse me fazer esquecer da beleza delas.
Será? Nunca!

Se o tempo é curto,
que triste!
Pois eu preciso de prática,
e já acabou o poema!

sábado, 12 de março de 2011

Tudo

Tudo? Tudo é muito vago, Gilberto. Tudo pode ser muita coisa. Vá, ande, feche os olhos e pense em tudo o que está acontecendo na sua vida. "Tá" Então, aposto que pensou no que te aflige agora, ou em algo que te faz relaxar, que te faz feliz. Talvez os dois ao mesmo tempo, quem sabe? Agora abra os olhos. Vê? Não há nada disso acontecendo! "Há sim, Marcela, há sim." Há, mas há muito mais! Olhe só: Aquele cachorrinho ali, fazendo pipi no poste, ele está acontecendo na sua vida. Aquele homem fazendo exercícios, também. Aquela folha caindo da árvore...ali, ó! Caiu. Ela aconteceu na sua vida. Eu aconteço na sua vida agora, e cada palavra que sai da minha boca acontece no espaço entre a minha vida e pensamento e a sua vida. "Eu existo pra você também." É como se quando nós não estivéssemos olhando as coisas deixassem de existir até que as sintamos com tudo que existe em nós. E agora nós nos percebemos aqui. Cada molécula, todos os pontos que os nossos sentidos alcançam, estão acontecendo em nossas vidas. "Agora eu aconteço em você." E você acontece em mim! E tudo isso a nossa volta acontece em nós. Grande coisa é convergir os nossos acontecimentos. Estarmos juntos, assim. Fica mais fácil o tudo.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Segurança

Segurança
é segurar.
Então,
segura na minha mão,
porque eu tenho os pés no chão.
Vamos andar?

quinta-feira, 3 de março de 2011

O Câncer

Ah, vai dizer que nunca sentiu nada se remexendo dentro de você, como se você estivesse querendo se botar pra fora? É, isso é o Câncer. A despeito de tudo o que nos dizem e nos dirão os médicos, o Câncer é patologia espiritual. É quando tudo se ajunta, e forma uma massa de frustrações e anseios. Isso mata rapaz. Mata até quem é vivo. Mata quem é vivo de perto, assusta quem está de longe. É preciso correr atrás da felicidade - e ser feliz, por conseguinte, para evitar o Câncer.