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Nem sempre sou quem escrevo, mas sempre sou quem escreve.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Embriaguez

A embriaguez da alma é repulsa
dói, corrói e expulsa
de forma ingrata
aquilo que não muda nada

um sacrifício por muitos é martírio
dos mais belos olhos, sóbrios, saem...
mas uma entrega sem motivo, desnecessária
torna-se tolice irremediável

a todos os que embriagam suas almas
resta o sono respeitoso do poeta
que versa de vagar por aí
com os olhos pesados de vinho
sem ninguém machucar

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Jorge e as oscilações

Talvez a vida faça pouco caso da gente. E quando a gente resolve surpreender, não ligar, as cores explodem e saem da nossa cabeça como um jato, colorindo tudo o que é disforme e está em volta. A boca se projeta, o queixo toma forma, os olhos não são mais escondidos pelas sombras. Estaríamos diante aqui, do momento entre o ceder e o resistir. E as duas coisas caminham juntinhas, Jorge. Um homem que cansou de ceder está prestes a resistir. E o que já resistiu muito está prestes a ceder. E a vida oscila devagar entre cansaços, e nos joga pro alto como os mendiguinhos jogam os limões no sinal.

- Você está muito perto do céu.

E eu me lembro da ultima canção que você escutou, a nostalgia, as lágrimas cedidas, o encontro com algo desagradabilíssimo. Você desabou, com certeza. Desabou e eu não esperava menos de você. Pelo contrário, esperava mais, esperava que você se jogasse do décimo sétimo andar, lá do alto do céu. E é de gente assim que a vida faz muito pouco caso, meu amigo. Mas agora veio uma alegria inesperada, fruto de um esforço tranquilo e, ao mesmo tempo, feito com a agonia de contar com a sorte. É hora de sorrir sem esquecer o que já se passou. É bobeira colocar o disco arranhado duas vezes na vitrola.

- Você está colado no chão...

E qual é o exato ponto entre o alto e o baixo? Onde termina o azul e começa o verde? Onde termina o dó e começa o ré? Esse exato ponto é a fantasia, Jorge, o fim da oscilação. Onde as coisas simplesmente não importam. É um lugar que ninguém ousa achar. E a vida faz pouco caso de nós, porque de fato, não encontraremos aqui. Mas a felicidade vem de saber que esse ponto existe e de que se pode caminhar pra lá. É ir em direção a resistência, voltar de onde se foi, girar meia volta, volver. E agora vejo você caminhando na felicidade, amigo. Que belo ser humano você se tornou.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

#6

sentimentos são atitudes.
Uma atitude é fruto, e ao mesmo tempo,
o sentimento em si.
Palavras são   potencializadores
do sentimento,  da atitude.
Palavras são potencializadores
das faltas
de sentimento, de atitude.
Os sentimentos não podem ser descritos por palavras,
apenas ajudados:
a palavra em si é vazio.
oco
incapaz
preenchemos como queremos as palavras,
como o recheio:
 recheia o bolo.
Não se deixe enganar 
pelas palavras.
Engane-se pelos sentimentos.
Será a forma mais sensata de errar.
E se ouvir alguma palavra que toque,
transforme-a em sentimento.
Quem a falou também sentia.
E se não sentia?
Hipocrisia 
-ia
-ia
Palavra sem atitude, 
é palavra vazia.