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Nem sempre sou quem escrevo, mas sempre sou quem escreve.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Sobre as surpresas da vida

Um dia me perguntaram quem sou
Eu respondi quem não era
E a vida me surpreendeu
Sincera.

domingo, 17 de outubro de 2010

A paixão e Os meninos da rua Paulo

Nemecsek estava definitivamente doente. Mas deu sua vida pelo clube. Há de se arriscar a vida por algo, talvez por algo que se ama. Não, não, certamente por algo que se ama. O amor transcende a justiça. O amor se faz algo a mais, dando a quem se ama mais do que merece. A vida vale bastante. Pois bem, da mesma forma ele, Flávio, arriscaria sua vida por algo. Nemecsek merecia seu respeito. E por coincidência, sua doença iria matá-lo em pouco tempo. Se ele quisesse dar a vida por algo, teria de ser rápido. "Rápido, mas bem feito" pensava. Por que não arriscar a vida por um amor comum? Faltava água no filtro. Havia alguma em uma panela. Bebeu. "Que gosto horrível, gosto de metal, gosto de remédio, mas é só isso que tem mesmo, então bebe logo esta merda flávio, que você vai apontar sua vida pro canto certo hoje e vai morrer feliz".

Flávio subiu ao ônibus. Avistou a mais bela das meninas sentada no banco alto, do lado do corredor. Sentou no lado oposto. Olhou, virou, olhou, fez cara de dúvida, pensou, pensou. "Qual nome vou usar? Anda flávio, pensa logo nessa droga, se não a menina puxa a cordinha e você vai morrer feito teu tio, de repente e infeliz, naquele acidente de carro, morra de forma premeditada. Cacete flávio, pense, Carolina, Carla, Mariana! Isso. Ela definitivamente conhece alguma Mariana. Não tem erro flávio, vai que é tua." Olhou pro lado. "Vai Nemecsek! Vai, morra pelo sonho."
- Você que é amiga da Mariana?
Coincidentemente era amiga de Mariana, sim, muito amiga, confidente.
- Mariana Corrêa?
- Isso, essa mesma! Acho que eu te vi na festa dela!
Foi um salto no escuro.
- Acho que me lembro de você. Estava bêbado, não é?
- Talvez... não me lembro!
Ela morreu de rir. Flávio morria.
- Sente aqui - disse Flávio - assim a gente pode conversar melhor.
- Claro, por que não? Gostei de você.
"Isso flávio, você é o novo nome do mundo. Travou uma batalha importante, como Nemecsek. Pena que está morrendo, essa menina faria a ti um grande bem."
- Meu nome é Natália.
- O meu é Flávio. Eu também gostei de você. Acho que deveríamos nos encontrar, mesmo com a Mariana, qualquer dia desses.
- Acho que a Mari não precisa de ir.
E eles marcaram de ir ao cinema no dia 15. Dia 14 Flávio morreu. Tranquilo, feliz. Arriscara sua vida por algo que valia a pena.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O melhor lugar do mundo

O melhor lugar do mundo
Não é no mundo.
O melhor lugar do mundo
Está em nós.
Reino dos Céus.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Considerações sobre a felicidade humana.

1
Esses dias descobri
Onde está a felicidade.
E como se não fosse tão óbvio quanto é,
Revelo, para o espanto geral
(e a atitude blasé dos mais informados):
A felicidade está na ponta do nariz.
E como a gente procura a danada!

2
A felicidade se coloca ali,
Penso eu, para vários motivos:
Para a esfregarmos na cara dos outros;
Para que todos a possam ver
Para que todos a possam desejar, por não ter
Para que nunca possamos alcançar.

3
A felicidade está em um beijo.
Porém, nunca se sente a própria felicidade.
É sempre a felicidade do outro,
Que se esfrega em sua face,
Dessa vez com carinho e paixão.
A felicidade está na ponta do nariz,
Na ponta,
Ponto!
Beijo

4
E se perguntarmos uns aos outros
"Por acaso não posso me ver ao espelho?"
E a resposta então se esconde,
Como a felicidade,
Mas é clara como o reflexo.
"Quando nos vemos no espelho,
A tristeza nos acomete,
Vemos o que há de feio,
Real, físico,
E talvez a felicidade não pertença a essa classe de sentidos"

5
Se a felicidade está na ponta do nariz,
Que eu fique então
Muito,
Mas muito gripado.

6
Talvez seja por isso que nos intrigam os focinhos caninos.
Ali há um monte de felicidade.
Uma felicidade encharcada,
Assim como no focinho de outros animais.
"Animal não pensa!"
Mas, quem disse que pra ser feliz é preciso pensar?

7
Talvez seja o contrário de tudo.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

#3

Numa odisséia pancrática
Onde as armas me desarmaram
Lanço mão de elemento apoético:
Banana

Do décimo sétimo andar (Continuação da continuação; Parte IV)

E quando os dias iam passar, resolvi me livrar da caixa de sapato que continha as fotos. Eram milhões de fotos. Joguei-as do alto do prédio. Era como um suicídio, mas junto puxava Ela e alguns amigos que agora me falham à memória. Talvez eu tenha chorado, talvez tenha assassinado algumas lágrimas que se perderam no meio do caminho, do 17° ao chão. No final, preservei apenas a caixa, onde pus um sapato social que não usava há tempos. Agora a caixa exercia a sua devida função, poderia voltar a acumular poeira no alto do armário.

Dormi.

Na verdade, na verdade, eu não me lembro muito bem no que sonhei. Mas creio que o raciocínio induzido é capaz de preencher as lacunas que os sonhos deixam. É como um divertido jogo de cruzadas. Mas preenchendo foi que percebi que se formava uma imagem perfeitamente igual à imagem do sonho. Era esguia e tinha olhos atentos. Um pouco arregalados, talvez, mas nem tanto. Eram tão delicados quanto os soslaios frequentes que lançava. Definitivamente eram olhos belos, curiosos, soslaiantes. Não, não eram aqueles olhos que mal se percebe onde começam, onde terminam, não, via-se com nitidez a parte branca inundando o castanho escuro da íris. Seu nariz era meticulosamente empinado, fino e gracioso. Sua boca era delicada como a sua voz, leve, tranquila, desprovida de qualquer autoridade. Os cabelos eram estranhamente um misto escuro de liso com pontas onduladas, o que combinava com o castanho de seus olhos. O corpo era representação da face. Bonito e comedido. Eu a idealizava assim. Talvez ela nem fosse assim, ou fosse, nos meus sonhos. Romantismo idiota, sempre acordando as pessoas felizes. Se existia alguém no mundo que não queria se apaixonar, esse alguém era eu. E ponto. Estava feito: Uma mulher de um sonho, que nunca havia visto. Pelo menos ela não me decepcionaria.

Foi no passar desse dia, ao acordar, que percebi que não comera nada nos últimos três dias. Senti uma fome indiferente, não me apertava a fome. As prateleiras noticiavam que não tinha feito compras do mês, muito menos pago as contas de luz e telefone, se é que tinha telefone nesses dias, se não já o tinha varado pela janela. Achei um pacote de alguma coisa. Comi. Eu definitivamente não queria pagar minhas contas. Não queria pagar às companhias e nem queria pagas as contas que tenho com todos os homens. Senti-me no fundo de um poço. Olhei pela janela. Senti-me no alto do mundo. Talvez quando pensamos que estamos construindo a nós mesmos, quando estamos a nos edificar, é aí que encontramos o fundo do poço, e quando nos percebemos na miséria, é quando nos construímos mais rapidamente. Estava agora acima de todos os homens. No 17°, era acima de todos eles, insignificantes. Como se eu fosse rei do mundo, mas ninguém soubesse disso, como a fantasia do pequeno jovem, que namora sua amiga sem que ela saiba.

Eu definitivamente era o rei.

Mandava neles! Sim! Mandava em todos! Mandava sinais abrirem, mandava carros pararem! Mandava passaros voarem e nuvens se moverem! - Homens, respirem agora! Isto é uma ordem! A submissão é algo lindo quando visto de cima para baixo. E nem déspota eu era. Absoluto sim, mas amoroso. Nesse momento um sinal abriu sem que mandasse. Houve a colisão. - Merda! Eu mandei ir? Eu mandei abrir esta merda de semáforo? Não mandei! Bem feito! Ele morreu. Eu acho que deveria ter morrido mesmo. Desci do trono e deixei tudo correr nos conformes. Mandei a luz ligar. Ela não ligou. Tevê, ligue! Não ligou. Fogão, esquente! Nada. Mas não me irritei, acho que tem de ser assim, é uma escolha a se fazer: Se mando no mundo, não posso mandar também na minha própria casa.

domingo, 3 de outubro de 2010

Política

Como estudante do Ensino Médio, me arrisco na política. Posso estar errado, posso falar merda, mas acredito num ideal e numa concretização do mesmo para a melhoria do meu país. Realmente, acho hipócrita a Cidadania declarada, a cidadania imposta. Creio realmente que uma sociedade movida pelo sentimento nacional e a cidadania não seria panfletária do jeito que é. A cidadania parte do ato de pensar e agir de acordo com a melhoria do seu meio.

Acredito sim nos ideais de desenvolvimento, acredito em uma melhoria econômica através de uma moderação privada, acredito que o desenvolvimento econômico aliado a um pensamento de cidadania e integridade trará melhorias não só para o país, mas para toda a sua população, no que diz respeito à qualidade de vida. Defendo esses ideais com unhas e dentes, e parto do pressuposto que também é cidadania respeitar os pensamentos divergentes, sejam eles utópicos ou não.

Alguns me criticaram por ter anulado o meu voto para Deputado Estadual. Que eles fiquem a vontade. Anulei pois acredito que representei uma parcela da população descontente com alguns políticos de direita que andam por aí arrancando dinheiro dos cofres públicos. Não consegui achar ninguém que correspondesse à meu conceito de integridade e ideologia. Não que esse não exista. Iria votar num deputado de esquerda, Marcelo Freixo, mas achei importante representar, mesmo que ninguém entenda ou perceba, a minha decepção em procurar um deputado e não encontrá-lo. É como fazer arte para si. Respeito o Freixo, respeito o trabalho dele, acho ótimo, mas entendo que é importante representar meu ideal, mesmo que ele possa ser errado, mesmo que ele possa ser uma visão limitada de mundo, de alguém que se esforça por pensar, mesmo que ainda novo, num país de apolíticos e ignorantes anti-democráticos.

Cristiane

Há quem diga que a verdade é como vemos as coisas. Talvez realmente seja como soa. Seríamos então capazes de mostrar um hematoma feito por uma visão? Pois eu digo que sim: afinal, após um milhão de anos convencionando, sentimos dores no peito quando estamos tristes. O coração sente algo? Claro que não, a mente guarda todos os nossos sentimentos, tudo o que há de invisível no nosso corpo, as energias. Cristiane talvez não entendesse de metafísica, muito menos de corpo, mas sentia as dores no peito. Como todos nós. Era excelente em trabalhos domésticos. Realmente se esmerava e como se não parecesse verdade, adorava trabalhar dessa forma. Cantava músicas da jovem guarda enquanto lavava as louças ou varria a sala. Era nova na casa da jovem Mariana, que, de tempos em tempos, gostava de ouvir as canções da empregada enquanto trabalhava em seu computador, ou até parava as vezes para conversar sobre coisas rápidas e informais com a moça. Chegava as seis e meia da manhã, pontualmente. Mariana as vezes gostava de olhar o relógio as seis e vinte nove, e no exato momento em que viravam as seis e meia, ouvir o pedaço mais famoso da peça Für Elise de Ludwig Van em lá menor, anunciando a chegada de Cristiane. Saía as três e meia, também pontualmente. Era eficiente, em dois meses de trabalho nunca havia faltado, muito menos se atrasado - chegando ou saindo.

Em suas rápidas conversas com a moça, Mariana descobriu que tinha quatro filhos: Dois com um homem que nunca soube realmente onde viveu, qual seu nome, sua aparência, e outros dois com o homem que agora vivia em sua pequena casa, um rapaz de índole duvidável. Porém, não havia se divorciado, diziam os rumores que ela havia fugido do primeiro homem. Lá no fundo, isso realmente intrigava Mariana. Porque fugira? Por apanhar? Por brigar? Ou simplesmente pelo esmorecer de um amor que para humanos, deveria ser eterno? Não se sabe.

Então, quando naquela tarde ouviu-se o estalar do portão fechando, e Cristiane dobrou a esquina, Mariana pôs-se a pensar em tudo aquilo, na vida de Cristiane. Mais tarde, toca o telefone. Era o marido dela. Onde ela está meu deus ondeseraqueelafoiblablablablablabla. Mariana disse apenas que não sabia de nada. Ele repetiu a ligação duas vezes. E Mariana repetiu a resposta.

No outro dia, Mariana olhou o relógio: Seis e vinte nove. E ao badalar desimportante das seis e meia, não se ouviu Ludwig Van. Mariana esperou mais um pouco, mesmo que já soubesse do pior. Cristiane não chegaria, muito menos voltaria. Ela fugiu novamente. Fugiu para ter mais dois filhos, fugiu para trabalhar em outra casa, para intrigar outras marianas.

Mariana foi ao seu pai. Pai onde está Cristiane? Ele nunca tomou conhecimento da empregada. Sua mãe também nunca ouvira falar de Cristiane, muito menos seus irmãos, não sabiam das fugas, das chegadas e saídas, das canções da Jovem Guarda... Nem a campainha tocava Ludwig Van Beethoven! Mas Cristiane era tão vívida, tão intensa em suas cantorias e histórias! E agora? Cristiane havia trabalhado ali. Era verdade. Pelo menos, há quem diga que a verdade é como vemos as coisas.