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Nem sempre sou quem escrevo, mas sempre sou quem escreve.

sábado, 31 de julho de 2010

Cotidiano

Enquanto isso, na varanda
exposto está o cotidiano extraordinário
aquele que nos adoça numa surpresa normal
o cotidiano infalível.

sábado, 17 de julho de 2010

O Banco Alto

De todas as coisas no mundo que me dão pano pra manga, a maior de todas elas, indubitávelmente é um ônibus. Porque no ônibus eu tenho os meus insaites, tenho as minhas idéias. A Pendotiba, empresa que monopoliza o transporte público aqui de Niterói, já partilhou das minhas maiores alegrias, das minhas menores tristezas, dos meus pensamentos, das minhas decisões. Não sei o que seria se andasse de táxi. Não seria o mesmo. Tive idéias, tive falta delas, li, amei, cuspi, ri, chorei, tudo dentro de um ônibus. Mas tudo isso não é nada, diante da tamanha importância que os ônibus têm em minha vida.

Foi hoje que eu vi, e me lembrei. Pegava o ônibus para a escola, para ir me preocupar com notas e recuperações, quando entraram porta adentro uma mãe, e seu filho, de uns 8 anos, e ela o carregava por obrigação. Não era daquelas crianças que anda subordinadamente ao lado da mãe: ele deveria ser literalmente puxado. Eu estava sentado no assento mais alto, aquele assento que é elevado por causa das rodas do ônibus. Havia entrado no ônibus e me dirigido diretamente a esse assento. E a criança, arrastada, soltou um grito no meio do ônibus:
- Ali mãe! Ali! No banco alto! EU QUERO SENTAR NO BANCO ALTO!

Voltemos aos dias de minha infância:
- Ali mãe! Ali! No banco alto! EU QUERO SENTAR NO BANCO ALTO!

Sim, eu também queria, e ainda quero, todas as vezes que entro no ônibus, sentar no banco alto. Mas por que?

POR QUE PREFERIMOS O BANCO ALTO?!?
Nunca entendi. E em meio a tantos risos, choros, amores, ódios, cuspes, escarros, leituras e devaneios eu sempre me perguntei isso. E é o banco alto, e de preferência o da janela, que dá pra encostar a cabeça e sentir os respingos e o vento. São 18 anos de dúvida. Talvez seja uma questão de vida inteira, uma monografia de mestrado - que defenderei com unhas e dentes. Isso tudo me atacou hoje e me levou até o Gúgôl. "Por que preferimos sentar no banco alto do ônibus?" foi o que eu perguntei ao Dr. Sabe tudo, e do alto da sua sabedoria ele me mostrou que eu não estava só. Comentários e mais comentários, reais e ficcionais, a respeito da preferência pelo tão aclamado assento. Muitos comentários, muitos relatos, mas nenhuma resposta. Isso é caso de pesquisa antropológica, não brinco aqui caros leitores. Talvez seja pelo desejo humano de destaque, ou pelo mesmo instinto natural de estar numa posição privilegiada, que te permite avistar melhor o ambiente que te cerca, cheio de riscos e ameaças. Eu sento por nostalgia. Por falta do que fazer, gosto de coisas que me lembrem dos meus 5 anos. Mas não é só por isso, a vontade arde, quando vejo o banco vago, a janela vaga, sem ninguém do lado! Tomo o assento e me acalmo. Mas se não há mais lugares nesses mirantes do transporte público, fico um tanto desapontado. Dá até vontade de falar:
- Ali, no banco alto. Queria sentar no banco alto.

Estarei fora pelas próximas duas semanas. Sei que não farei falta, mas é só pra avisar mesmo.

terça-feira, 13 de julho de 2010

A jóia

Franco tomou sua xícara de café e olhou no além-mesa, parada numa dessas canecas que todos nós invejamos pela suavidade e sutileza de suas cores, uma mão que ostentava um anel singular. Não era um desses genéricos, com diamantes dispostos a esmo, sem pensar no futuro ou no passado. Era uma jóia meticulosamente forjada: Um enlace de ouro comum e branco, com uma sincronia inigualável. Causava a impressão de que a separação entre os metais nunca existira, que eles sempre estiveram assim dispostos, encaixados. De certo havia vezes em que se olhava para o anel, e não se podia perceber que eram dois tipos de ouro, mesmo que a cor fizesse esse detalhe aparente. Dois pequenos diamantes estavam encravados na parte superior, um em cada pólo do anel. A jóia era perfeita. A mão era perfeita. Era como se o anel tivesse sido feito para a mão, e a mão para o anel. Como se o ouro comum tivesse sido feito para o ouro branco, e o branco para o comum. Como se Franco se encaixasse em Júlia, e Júlia em Franco, e apesar das diferenças, eternizassem a união. Heterogênea, porém homogênea. Que jóia perfeita.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Gerundiando

Ando
Aprendo
Vagando
Vendo
Ouvindo
Vivendo
Sentindo
Amando
E ando
ando
num gerúndio
sem fim
eternizando
o aprendizado
aperfeiçoando.

sábado, 10 de julho de 2010

Coração

Coração
coração
Coração
coração
Coração
coração
e só.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Chocalho

Chacoalha Chocalho,
Chacoalha e chapisca
Os torrentes metais da gafieira
Que oram, choram.
Mantém vivo o samba, chocalho
Não chora, chama
Ritmas, amas.
Te escondes atrás
Das graves cordas,
E sucinto sambas
Sambas
Chambas.

sábado, 3 de julho de 2010

Deus

Adoro a palavra Deus. Por isso falo muito ela. Não que eu fale em vão, até por que Deus está em tanta coisa que remetemos a esta palavra mesmo que indiretamente. Deus é muita coisa. Deus é o divino, que me liberta, que te liberta, e liberta a quem Ele quiser. É Ele que me deu a vida, e deu a graça dela. A graça. Deus é interjeição, é susto, é alívio e acompanhante dos que vão com ele. Deus é conforto. Por isso uso o nome dele no conforto de meus poemas. E tenho propriedade em usá-lo. Uso-o para algo que é bom, é arte, é belo. Há quem use o nome dele pra fazer riqueza pessoal, ou manobrar fiéis, que são dignos de graça, e vítimas da maldade de quem faz mal uso dessa palavra. Ê palavrinha boa! É sonora ainda por cima! Deus... Deus... Soa como um vento, que é forte no início, mas suave no fim. Deus faz jus ao nome dele, sempre fez, sempre fará. E como todo bom vento, não se pode ver, mas se pode sentir: No próprio vento, ou no verde bom que nos cerca. Deus.