Minha foto
Nem sempre sou quem escrevo, mas sempre sou quem escreve.

domingo, 2 de outubro de 2011

Jorge e as canções-encontros

Cada timbre é um encontro, Jorge. Cada canção. E não é pra você se deixar levar tanto assim, mas é pra não ter tanto o pé no cimento, coloque ele na terra, pelo amor de Deus pai. A caneca de café já esfriou, aliás, você bebeu ela pela metade, e a repousou na bancada da cozinha. Icaraí já não parece tão atraente assim. Mas finalmente, a ti parece que alguém te encontrou, e uma canção toca e reverbera no oco do seu apartamento à beira-mar. E chovem pensamentos, quanto será que foi o jogo do vasco, amanhã preciso entregar um trabalho, e a louça está toda pra lavar, veja só, essa música vai ficar repetindo na minha cabeça, acabou o açúcar, tome cuidado, rapaz, tome cuidado, Jorge. Tome cuidado com as canções que você anda ouvindo. Cada canção é um encontro. Te disse, ou você mesmo notou, quando o café ainda era quente, do que a felicidade fazia com o seu bairro, do que o mar fazia com os prédios. Agora, já enferrujado, vem me dizer dessas canções e encontros, que de fato são muito belos. Mas deixo pra você meu aviso, homem: Tudo o que você encontrar, durante toda a sua existência, necessariamente tem de te encontrar também. Caso contrário, não é en-contro, não é en-canto, não é canção. Olha pela tua janela, rapaz. O mar já enferrujou o teu toca-disco. Abre o ouvido e pálido perceba: a canção não toca, você só está com ela na cabeça, você nunca presenciou nada. E por mais triste que isso seja, Jorge, não há timbre. E cada timbre é um encontro.

Na vida, uma certeza se tem:
Tudo que a gente encontra,
encontra a gente também.

Nenhum comentário: