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Nem sempre sou quem escrevo, mas sempre sou quem escreve.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O velho e a peste.

É, fui arrastado. Minhas unhas arranharam o chão. Não queria sair de Niterói. Ainda mais agora... vir pra Cabo Frio? Tenho 85 anos(mesmo que mentais) e só saio de Niterói por vontade se for por um velho amigo, ou pra ir até a Tijuca. Ah, sim, a Tijuca! Tanto ufanismo e eu não sei nem por que. Mas lá eu encontro meu lugar. Quero morrer onde nasci. Mas cá estou, Cabo Frio. Arrastado e tedioso. Não há velhos amigos aqui. Estou passando o tédio de ficar trancado em um apartamento na cidade que dorme tarde. Abriga os jovenzinhos com suas roupas multicoloridas e demasiadamente estampadas, quando alguns pseudo-literatos carregam seus crepúsculos e luas novas por onde vão. Esses jovens, nunca vi! Reclamando de mim, dizem que não tenho gosto de viver... É por que a vida deles ainda é doce. A minha já foi, na Tijuca. Mas encontrei um refúgio num pequeno centro comercial perto da minha cela, e aproveitando do meu regime aberto me encontrei numa loja de livros. Maravilha, agora sim, algo de bom. Comprei-me um livro novo, estava desprovido deles. Mal eu sabia onde o determinismo ia me levar. Levei Albert Camus, no romance "A Peste". "Aí sim", pensei, erradamente. Me desloquei até uma pequena praia, pela calma diria eu um canal, que por brincadeira de ótimo gosto do horizonte, fundia seus montes e mais parecia uma lagoa de pequenas ondas que aumentavam de força e frequência a medida que passava uma lancha ou escuna. A faixa de terra era longa, porém estreita. E eu encontrei paz e ventos bons encostando-me no que fora um dia uma rede de voleibol. Paz, por pouco tempo. Maldita superficialidade! Entraram em cena um marido mandado e uma loira semi-obesa, que tentava tirar fotos de nível profissional. Dava ordens incessantes ao marido calado. Só isso pra tirar minha paz. Li sem entender nada o primeiro capítulo do meu livro. Resolvi me levantar pra ir, e a gorda resolveu que também queria ir na mesma hora que eu por sarcasmo do destino. Me irritei e procurei a primeira futilidade que me veio à vista. Pronto. Estou nessas casas de computador (como é que esses jovens chamam hoje em dia?) escrevendo.

Um comentário:

Felipe S.N. disse...

Gostei bastante brother, apesar do fato de que essa sua tristeza também me dói.