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Nem sempre sou quem escrevo, mas sempre sou quem escreve.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Acordar (ou "O nome das coisas")

É necessário saber separar as coisas que se fundem em uma só. Até porque se compõem, são por si mesmas, e assim, compostas de outros itens que podem ser apenas repetição do que a coisa é em si. Um elemento químico tem átomos e os átomos eletrons, e os eletrons - até onde se sabe - são compostos de eletrons, que são compostos de eletrons...

A verdade é composta de sentimento [?]

Aliás, a verdade é meramente o significado. E o significado incorreto é a mentira, o lugar que se desvia do que é realmente fato. "Ah mas o fato e dependente do ponto de vista e por isso nao existe verdade absoluta mesmo embora isso seja uma afirmaçao falaciosa somos seres deturpadores e nada nada nada e puramente como vimos, que visao maniqueista das coisas"

Ele acordou.

A-cor-dar: verbo. Um verbo é composto de palavra. E a palavra é composta de que? De palavra? A verdade é que a palavra pode ser composta de verdade, ou de mentira.
O verbo tem o mesmo "ver" de verdade, e a mesma força de uma calúnia.

A palavra é composta de significado.

E o significado é ser verdade ou mentira, bom ou ruim, preto ou branco. Mas o que será ser? Será que o ser se resume à vontade? À sentimento?

O sentimento está tão próximo do significado... a verdade está tão longe da palavra...

Ele acordou e não lembrava mais de nenhum nome, de nada. Havia batido de carro, talvez, talvez tivesse tomado remédio demais, talvez tivesse arranjado uma concussão sabe-se lá onde. Mas ele não lembrava mais do nome de nada. Seu pai parou na frente dele, sua mãe. Ele sabia quem eram, e os amava como nunca, mas não sabia dizer. Fazia sons com a garganta, apontava, dali a pouco começou a repetir o tom dos apitos do aparelho médico, a respirar fundo, a tentar gritar todos os palavrões que conhecia, mas ele não sabia mais nenhum. Ao se deparar com a total falta de palavras, chorou. E aos poucos, aceitando sua condição, foi emudecendo, observando, e reaprendendo o som de cada palavra que havia no mundo, e a fundindo com verdade, com significado, com todo o sentimento de um choro. Para ele agora as palavras faziam muito mais sentido, muito mais som, eram muito mais categóricas do que antes. Agora ele sabia separar o que se fundia em uma palavra só: A-cor-dar.

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