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Nem sempre sou quem escrevo, mas sempre sou quem escreve.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O jovem e o monstro

Tal escuro era o dia que o jovem se achava com medo, e era a única vez que sentia isso após os seus oito anos, há oito amadurecidos anos, quando se encontrava na cabeceira da cama de sua mãe. Depois dessa, não havia mais sentido medo de forma alguma. Havia se deparado com siuações perigosas no entanto, como na vez que fora assaltado em um sonho, ou quando viu sua mãe morrer, em pensamento.
Mas aquele dia metia medo em qualquer um. Era o dia em que as nuvens escondiam o azul do céu, num cobertor de algodão encardido e empoeirado, que não deixava passar a luz confortante do sol. Os grunhidos eram de um monstro gigantesco, voador, que alcançou os céus e voava por cima da crosta nublada, procurando atacar os transeuntes descuidados. Esse era o monstro mais temido pelo jovem. Não havia o encontrado há muito tempo, por que onde morava era seco, de solo rachado, o céu quase nunca se escondia e a vegetação cactácea, segundo ele, produzia a água que bebia quando não havia mais nada em seu reservatório. Estava lá, novamente, veio para atormentá-lo, o monstro gostava de chamar a atenção de todos, quando passavam e ouviam os seus rugidos aterrorizantes, corriam para a segurança de suas casas. Tal correria era fruto da mente do jovem também, pois nunca havia visto pessoas, a não ser a sua família, e o chefe de seu pai, um homem gordo, farto, com um bigode e um chapéu branco. Ele sim, era aliado do monstro. Tinha um olhar terrível de quem domina sobre os outros, e não os considera. Sim, sim, essa era a atitude de quem gostava do monstro. O jovem então, não se assustou tanto, quando o seu pai, ouvindo os barulhos ensurdecedores do monstro, levantou-se da sua cama e partiu sorrindo em direção ao quintal, sorrindo e agradecendo, como quem encontra um velho amigo. O monstro era amigo de seu pai também. Ele trabalhava para o homem do bigode, então tinha que ser simpático com aquela máquina assassina. O menino então percebeu, que o monstro não era confiável. Pois fez cair a chuva torrencialmente, e rugindo, soltou de ímpeto um raio na cabeça de seu pai, matando-o de imediato. Sua mãe chorou. Ele não podia chorar, então sua mãe chorou também as lágrimas que lhe pertenciam. O enterro foi no domingo. O monstro já havia ido embora, e o sol voltou a brilhar. O homem do bigode pôs o jovem e sua mãe para fora, sem rumo, à mercê do monstro.
Trinta anos depois, morre João Cavalcante Martins Filho, o menino, num dia nublado, embriagado, estraçalhado. Havia pulado da cobertura de um prédio no Rio de Janeiro.
Ele queria matar o monstro.

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