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Nem sempre sou quem escrevo, mas sempre sou quem escreve.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O carregador de fardos.

Dedico ao meu irmão, Felipe dos Santos Nogueira.


Ele dizia sentir tudo aquilo no peito. Um aperto, incômodo, uma pressão sobrenatural, como se a dor quisesse como que arrancar a sua alma puxando-a de súbito. Chorar, não! Nunca chorar! Não era isso que ele ouvia dos pais, mas era esse o seu conceito. Homem que é homem não chora, muito menos por mulher, mesmo que mamãe tenha dito o contrário. E ele então chorava por dentro, segurava tudo apertando a língua na glote, limpando com os antebraços os olhos marejados e salgados, bocejava a todo instante buscando ar, respirando fundo. Mal sabia que engolir o choro era causar em si uma hemorragia interna, difícil de diagnosticar e de curar. Mas ele já se dizia acostumado, pois já passara por tais sofrimentos e da mesma forma havia os contornado. Escondia dos outros o que ainda sentia por causa de cicatrizes mal curadas e problemas não tão resolvidos. Carregava consigo o peso de não largar o peso que se leva quando a jornada se acaba, e entrando numas e noutras, carregava consigo um peso que quase anulava o seu próprio. Então não aguentou. Parou, e o sangue que escorria por dentro chegou às vias de saída. Chorou copiosamente. O peso já não permitia mais a caminhada esforçada. Mas ele não chorava mais por ela. Só chorava. Nem ele mesmo sabia o porquê daquele choro todo, e chorava também por que chorava, não deveria chorar, chorar é coisa de mulher! Pensava nisso, enquanto se auto-degradava com palavras e expressões de dissentimento. Era a calada da noite, então era menos pior, por que ninguém o via, ninguém o percebia e era assim que ele desejava que fosse, e pensava nisso enquanto colocava as últimas gotas para fora do corpo. O peso que carregava já havia tombado e ficado onde estava. A vista cansou, embassou, escureceu, e num desmaio consentido se pôs a dormir. No dia seguinte estava mais leve. Alegre, enfim! Podia novamente pular, algo que há muito não fazia. Não havia fardo.

Tempos após, caminhos após, o peso era o mesmo. E o que restava era a alegria da lembrança de que um dia ele havia pulado e sentido o alívio de quem é feliz. Mas agora ele suportava aquele peso que carregava. Estava mais forte, mais robusto, mais corajoso. O exercício leva à força. E então, após mais algumas épocas, após mais caminhadas, levava consigo o dobro do peso que carregara quando caiu. Ele era forte. Qualquer outro já teria desistido no início quando carregava o primeiro fardo e num escape teria ceifado a própria vida. Ele desejava fazê-lo, mas não tinha a coragem necessária. Não, em hipótese alguma, novamente chorar! Não! De jeito algum! Carregaria até o mundo em suas costas, mas não iria chorar. Chorar é para maricas, para veadinhos. E ele então caiu sobre os joelhos. A língua na glote, os bocejos falsos, as respirações profundas não mais funcionavam. Pos-se a chorar. Falhou, novamente, errou ao viver. Dessa vez o sol estava no zênite, era exatamente meio dia. Todos o viram. Riram, escarneceram. Mas houve alguém que se preocupou. E daí em diante, os dois levantaram, pularam, e tempos após, o fardo ainda era leve, pois era dividido entre dois jovens robustos.

2 comentários:

Felipe S.N. disse...

estamos juntos irmão
sempre
te amo mlk
abraços

Roberta Andrade disse...

Daniellllllll, estou surpresa...vc é talentoso..... bjs