Minha foto
Nem sempre sou quem escrevo, mas sempre sou quem escreve.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Meu aniversário de trinta e um anos

Foi justamente nesses dias que eu senti falta de um amor. Não necessariamente algo concreto, um amor-qualquer-coisa, só pra enganar a razão: Estou farto dela. Aquele amor que você só precisa achar que o outro gosta de você, quando na verdade ele nem se ocupa em pensar na tua existência. Bolsas de valores e mercados e músicas e talvez outras pessoas povoam a mente dele. Sim, necessito encarecidamente dum amor, por que na quinta passada lembrei do meu irmão, e de como o fim dele foi trágico. Linfoma. Ele era o único que me fazia não precisar de amor de mulher, como se tivesse uma propriedade sobrenatural que supria todas as minhas carências e deficiências, enganando-me, e me fazendo perceber que eu era perfeito. E agora ele tinha ido descarga abaixo, e me deixado sozinho, percebendo que não era perfeito coisa nenhuma. Foi justamente nesses dias que eu senti falta de meu irmão, de um amor. E agora confesso que já não sei mais se preciso de um amor pois sinto falta de meu irmão, ou preciso de um irmão pois sinto falta de um amor. Acho que um pouco dos dois, pra enganar a razão. Engano-me pensando que um amor assim vai me saciar de tal forma? Talvez sim. Mas talvez não, e prefiro continuar acreditando nisto.

Foi justamente nesses dias que eu me lembrei dum amor, e de como havia corrido e corrido contra o vento, me cansado por um faz-de-conta qualquer. Sim, eu necessitava de me cansar em vão, de povoar a mente, de me ocupar com as coisas fúteis e superficiais, pois o profundo já não me dava mais prazer. Lembro-me dela. Nem era tão bonita assim. Ou era, e eu não quero mais que seja. Lembro-me de quando esboçou corresponder, e de como o meu mundo passou de algo concreto para uma festa debandada, de fantasias e ilusões, palhaços e balões e arco-íris e nuvens. Todos os movimentos, mesmo os mais bruscos, se tornaram um espetáculo gracioso diante dos meus olhos. Casamo-nos, tivemos filhos, eles cresceram, eu tive um carro, uma casa, uma rotina só minha e um trabalho só meu, um salário que administrava com fervor, e que sempre sobrava para agraciá-la com vestidos caros e bolsas caras e múltiplos sapatos... como sustentava com alegria as suas vaidades! E, de repente, vi que tudo isso era mentira. Não havia sapatos, vestidos, filhos, carros ou arco-íris. Voltei a minha insignificância, ausente de qualquer função, nupcial ou social. Ela apenas esboçou corresponder. E esboços nem sempre saem do papel. Agora contento-me em necessitar de esboços apenas, do alto dos meus trinta e um anos, sozinho, só.

Um comentário:

Stefan Rotenberg disse...

Meu texto favorito. Pronto, falei.