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Nem sempre sou quem escrevo, mas sempre sou quem escreve.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Texto com fins de escândalo mal sucedido (com todas as interpretações possíveis para a ambiguidade)

Pois é. Resolvi escrever e causar um escândalo. Um grito. Ah! Eu ouço, vocês não ouvem, pois não há ouvidos em olhos, muito menos boca em palavras. Gostaria de escandalizar tanto quanto me escandalizaram. Acho que isso não me é permitido. Talvez a vontade me traga a duas extremas possibilidades: A de escandalizar muito mais, por achar que meu problema é o maior de todos, e dosar de forma incorreta a minha vingança, esquartejando alguém; Ou posso suavizá-la, não por querer, mas por ímpeto automático da piedade inerente ao meu ser, talvez me arrepender depois, tentar fazer de novo e... enfim, voltamos ao esquartejamento. A vingança é fora de cogitação, porque de forma alguma é justa. Só seria justa se fôssemos ideais. Quando se pisa num pé por vingança, pisa-se muito mais forte. E se não piso, não machuco, e vá lá, ninguém quer levar desaforo pra casa.

Muito bem, resolvi escrever um texto. Que maravilha, uma descarga mental, um qualquer-coisa degenerado que só exibe aos poucos transeuntes a minha falta de resolução comigo mesmo. Quer saber? Que se dane. O texto já está escrito mesmo, não tem como apagar, até porque ele não está lá tão ruim. Mas aí me resta uma dúvida: Será que alguém vai ler? E entender? (Quanta pergunta retórica...) Não faz sentido nenhum se ninguém entender, logo, o texto estaria uma grande merda. Mas não está.

Fotos, eu olhei hoje dezenas e dezenas de fotos. Me deu vontade de me vingar. Mas não dá, porque eu estaria sendo alguém ruim. Quanto maniqueísmo, hein? Olhar pra quem te escandalizou e achar que essa pessoa é ruim. Ruim? Essa palavra beira o ridículo. Um desvairado juízo de valor, que aplicado a seres humanos é inútil. Há certas coisas que eu entendo mas me nego a aceitar. A negação é culpa minha. Já devia ter me acertado.

Como irei me acertar? Sem me vingar? Há de haver um jeito! Causar dor no outro, ou puramente satisfação ao meu ser! Existe algo me rasgando por dentro, que tal? Já tentei de tudo. Nada resolve. Comecei a achar que é patológico. Que se explodam as patologias, eu só quero ficar bem! Bem comigo mesmo! Em paz! PAZ!
Paz que alguém me deu, e depois me tirou. Sem nem perceber, sem motivo. Porque se houvesse um motivo, talvez se tornasse no mínimo plausível.

Mas há um jeito de voltar-me à paz. Morrendo. Por isso me matei. Hoje, dia 02 de maio de 1996, com uma dose de qualquer coisa. Engasguei, agonizei, e fui. Espero que nos traga paz.

Um homem foi encontrado com a seguinte carta, em casa de seus pais, trancado no quarto. A televisão estava ligada, sem sinal, e ele estava jogado ao chão, ainda vivo. Foi reanimado, e continua morto, vivendo até o presente dia.

(texto fictício)

5 comentários:

Bernardo Acácio disse...

Faz todo o sentido, mesmo que muitos não o entendam. Muito, caro!

Dhiego Abreu disse...

será que é coincidência eu também ter postado um texto sobre morte essa semana? vai saber...

Aline Viana disse...

Infelizmente eu entendi, entendi tudo e nos mínimos detalhes.
Ainda amo seu pessimismo. É um jeito maravilhoso de mostrar sua arte.

mari_aylmer disse...

de um jeito muito estranho, me identifiquei...

acho que vou me matar.
é, boa ideia.

Daniel Caldeira disse...

Acho que todos se identificaram por ter um pouquinho de suicida em cada um de nós, talvez, não sei.

C.S. Lewis disse uma vez que a razão de nenhuma experiência nesse mundo satisfazer o homem é a evidência de que ele foi feito para outro mundo.