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Nem sempre sou quem escrevo, mas sempre sou quem escreve.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Só eu falo

O despertador tocou as 6, religiosamente.
Zé levantou, jogou uma agua no rosto, resmungou alguns palavrões na sua cabeça e pegou um molho de chaves que faria qualquer um ter uma crise de ansiedade, de tão grande. Ele não. Já era zelador há uns 10 bons anos, tinha gente que nem sabia que era tanto tempo, tinha gente que nem sabia. Agarrou um pedaço de pão e subiu as escadas que davam a vista de um pátio vazio, de uma rua vazia. Era domingo de manhã.
Enfiou a chave no buraco da porta do templo maior. Não era aquela. Enfiou a outra e aí acertou.
Quando as duas portas se abriram, a luz que entrava pelo lado de fora invadiu o templo e transformou Zé numa sombra. Mas se ele agora não era visto, podia ver o que tinha lá dentro. Era gigantesco. Quem tinha posto aquilo lá? Uma escultura gigante, ia do tapete vermelho até perto do teto.
Ligou pro pastor.
- Pastor, acho que alguém sacaneou nossa igreja.
- Olha a língua, irmão.
- Não tem outra palavra não, seu Pastor. Sacanearam. Uma tragédia, uma coisa muito séria mesmo.
- Irmão, olha a sua boca. Vigia ela. Enquanto você não falar direito, não vou te ouvir.
- Tem uma pir...
- A BOCA!
- Tem um pênis gigante no meio da igreja, Pastor.

A dita cuja era de plástico, gigante, e ninguém fazia ideia de onde vinha, quem tinha posto ali. As senhoras ficaram escandalizadas e logo colocaram a culpa em alguém da juventude. A juventude achou engraçado. Tirando alguns que, na noite anterior, tinham tido sonhos eróticos.
Os senhores logo foram investigar. Olharam as gravações das câmeras de segurança, minuto por minuto da noite anterior. Não havia sinal de movimento ali. A igreja não tinha sido nem observada de longe, por alguém do outro lado da rua. Conclusão: obra do Capiroto.
Um grupo se uniu no templo para orar, pedindo que aquilo sumisse. Tinha sido posto ali para causar confusão. Fechavam o olho e oravam, oravam... quando abriam os olhos cheios de fé que ia sumir... estava ela lá de novo.

Uma irmã virou pra outra e disse:
- Tinha que ser no Brasil. Esse povo é muito preocupado com a aparência, muito preocupado com o outro. Esses marginais que puseram isso aqui se incomodam conosco.
- É mesmo. Li ontem na revista que o Brasil é o país com o maior índice de promiscuidade no mundo.

O Pastor tentou acalmar todo mundo e levou todo mundo pra fora.
- Isso é claramente obra do maligno irmãos, uma coisa dessas só pode ser para causar confusão!
- (O SENHOR PASTOR TEM UM DESSE NO MEIO DAS PERNAS!)
A igreja toda tomou um susto. Ninguém sabia que o pastor tinha pênis. Pênis... Pênis... O Pastor? A juventude riu.
- Quem foi que falou isso? Quem é o irmão que se levanta contra mim? Quem é que atenta contra o escolhido de Deus?
O silêncio imperou no pátio da igreja.

No domingo seguinte o Pastor resolveu tomar medidas drásticas. Como o obelisco ainda não tinha sumido, eles iam encarar o diabo de frente e fazer o culto diante daquilo ali. E o tema ia ser sexualidade. Separou os jovens porque eles iriam ter uma lição especial com o líder da juventude. Nesse dia a igreja estava cheia.

- Irmãos, isso é um sinal da promiscuidade que domina o mundo!! Nós não podemos nos misturar com essas pessoas promíscuas! Mas temos que amá-las.
A igreja não entendeu bem mas deixou o pastor falar. Só ele tinha microfone. O pênis observava tudo, imóvel.
Na reunião da juventude, o líder explicou que, caso o pessoal não casasse virgem, Deus não ia abençoar o namoro. Alguns ficaram assustados, mas guardaram pra si. O culto acabou, as pessoas voltaram para as suas casas.
Durante a semana o telefone do pastor não parava de tocar.
- Pastor, tem um p...p...pênis na minha sala.
- Pastor, tem um pênis no meu banheiro.
- Pastor, no meu quarto.
- No meu escritório do trabalho, Pastor.
- No banco do meu carro. Quase sentei nele.
- No livro que estou lendo, Pastor.
- NA MINHA CUECA PASTOR!!

No fim das contas as pessoas só se assustavam com os pênis que apareciam. Alguns até falavam de chuva de pênis, "vi essa semana um filme que chovia sapo, agora chove pênis."
E Zé deitava na sua cama todos os dias, fazia amor com sua mulher, as vezes não fazia, as vezes ela tinha dor de cabeça e tudo o mais.
E dormia.

Um comentário:

Anônimo disse...

pastor Maquinameque dias

que absurdo esta istoria menino.

que deus mim ajuda a ora por vose, e pra vose cortar este cabelo que vc tem.

boa tarde servinho deus te bencoe.