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Nem sempre sou quem escrevo, mas sempre sou quem escreve.

sábado, 31 de outubro de 2009

Ponto Final

I
Eu pensei.
Enquanto olhava o misto
De cimento e árvores
Que borravam e se fundiam
Através da janela do ônibus respingada com os resquícios
Da chuva que acabara de acabar.
Pensei sim
Pensei nela
Pensei nele
Pensei na vida
Pensei em mim
E em como iria me desvendar
(sim, eu não me conheço).
Já que sou complexo,
Necessito de me explicar a mim mesmo
A cada nova descoberta que faço.

II

Descobri então,
E tive de me explicar.
Quando passei os olhos pelos assentos
Próximo ao ponto final,
No banco da frente um senhor.
Com a sua calvície refletida na iluminação do ônibus
E a sua barba por fazer
A camisa rasgada do Brasil,
A cara lavada do Brasil,
O cheiro de cachaça do Brasil.
Com seus olhos fechados,
Mas não para não ver.
Sua respiração ritmada denunciava:
Estava dormindo.
Provavelmente sonhando,
Com o dia que alguém iria acordá-lo
E dizer:
"Tio, chegamo no ponto final."

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