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Nem sempre sou quem escrevo, mas sempre sou quem escreve.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A caixa

- Não, não, eu olhei meio que de lado, assim ó.
- E eu olhei reto, retinho.
- O que se pode dizer, né? Cada um olha de um jeito, mas essa caixa é uma só. E o que será que tem dentro?
- Vai ver não tem nada e puseram aqui só pra gente olhar essa caixa verde.
- Amarela
- Vermelha
- Ahn-ahn, isso é azul, senhores.
- Que azul o que, Almeida! Você sempre fala como se fosse o dono da verdade. Um dia ainda pega um pós-doutor em cores pra te mostrar que a caixa é verde.
- Amarela
- Vermelha
- E você adora me contestar, vai dizer que não? Se eu digo que é bom, você diz que é uma merda, e agora que disse "azul", disse você "verde", fosse eu que dissesse o verde, aposto que tua opinião era outra.
- Nem azul, nem verde. Isso é vermelho, sim senhores! E é vermelho dos fortes. Não vê que despertou as nossas ânsias e paixões? Só o vermelho faz isso. A caixa é vermelha. Pode até não ter a cor vermelha, em si - embora tenha, mas mesmo que não tivesse seria vermelha desde o início.
- Amarela
- Verde
- Azul porque é o que me desperta a certeza de que é azul. Não fosse azul, não teria tanta certeza. Mas azul é minha cor favorita, ô Silva. Eu sei quando as coisas são azuis. Vai ver é até vermelho por dentro, mas por fora, é zuzim.
- E o que será que tem dentro dessa caixa verde?
- Amarela
- Azul
- Veja bem, veja bem. Estamos aqui, um em cada lado dessa mesa. Mas eu estou sentado cá, olhando assim, meio de lado. E os lados que eu vejo - dois por sinal, são vermelhinhos que só coração e decoração do dia dos namorados, pois venha cá ver, Almeida!
- Eu não preciso de ir aí coisa nenhuma rapaz! Pois eu olho aqui, sem confusão, sem essa dúvida tua aí, de olhar de lado, onde já se viu. Olho retinho aqui e a caixa é azul.
- Verde!
- Amarela
- Amarela é que não é. Mas, ué? Só tem três aqui, Eu, tu e o Fonseca. Cadê o homem do amarelo?
- Tô cá em cima, rapazeada.
- Ih, rapaz! Tem um cara no teto. Feito Homem-Aranha.
- A parada é amarela, sim. E dizem que de cima é que se vê as coisas direito, né? Então pode crer.
- Amarelo?
- Verde! Verde!
- E o que será que tem dentro da caixa, hein, Homem-Aranha?
- Sei lá, jovem. Tem um buraco aqui, no meio do amarelo, mas não dá pra ver, tô sem meus óculos.
- Tu sofre de quê, hein?
- Miopia, velho.
- Quantos graus?
- Uns 2 em cada olho, sabe?
- Pois é o mesmo grau que o Fonseca. Empresta teu óculos aí pro Homem-Aranha, Fonseca!
- Agora. Ih, rapaz! Olhando aqui de cima, não é que é amarela mesmo?
- Vermelha...
- Azul!
- Sobe aqui, sobe aqui, Almeida! Dá uma olhada só! É amarelo com um buraco no meio.
- Duvido... é azul.
- Vá lá então, Almeida.
- ...
- Maria mãe de Deus, a caixa é amarela, Silva!
- Vermelha!
- Então eu te desafio a vir aqui ver.
- ...
- É, é amarela mesmo, né?
- É
- É
- Morou?
- É.
- É...
- E o que será que tem dentro?

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