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Nem sempre sou quem escrevo, mas sempre sou quem escreve.

domingo, 5 de setembro de 2010

Amanhã de manhã

Antes de ler este texto, é necessário que se ouça a canção Vai(Menina amanhã de manhã) de Tom Zé. Youtube



Chegou! Chegou! Amanhã de manhã hoje é agora. E como prometido, num instante repentino ouviu-se um estrondo estranho. Era alto, porém não perturbou ninguém. Era como uma bomba atômica confortável. Todos os habitantes daquela cidade, exatamente à mesma hora, acordaram. O sinos das igrejas tocavam, do alto dos sobrados as janelas se abriam, e na rua de paralelepípedos as pessoas timidamente se aventuravam. O sol raiava com esplendor, mas se escondia por trás do nublado. Não fazia frio nem calor. O movimento aos poucos foi crescendo, aumentando, e às 10 da manhã os pombos estavam em polvorosa enquanto a cidade pulava. Pessoas rodopiavam nas praças, com uma chuva de bons-dias e como-vais. Inexplicavelmente, a felicidade tinha desabado sobre todos os homens daquela localidade. Todas as pessoas, simultaneamente, tinham atingido a plenitude de espírito. A cidade, antes com suas ruas coloridas neutramente, sempre em tons de cinza e pastel, começou a tomar cor: As pessoas, todas, decidiram pintar suas casas das mais diferentes cores. Lares sendo pintados de rosa, azul, verde, e até amarelo fosforescente. Os pintores que ganharam dinheiro com a empreitada, distribuíam-no entre pedintes, e compravam toneladas de pães para o alimento do próximo. Enquanto as trombetas tocavam, os padeiros, enriquecidos, compravam obras de arte que os artistas - ah! os artistas! Pintavam com perfeição a felicidade - desenhavam e esculpiam. Os menestréis cantavam nas esquinas canções de amores concretizados e plenos, as pessoas batiam palmas e jogavam moedas.

Dionísio saltitava entre os botecos da cidade. Ninguém estava bêbado, ninguém necessitava de esquecer de nada. Nem precisavam de estar, estavam embriagados com a felicidade que desabara há alguns dias. Dionísio tinha medo, as vezes. Medo dessa felicidade ir embora. Lembrava-se de um dos menestréis que cantava "Tristeza não tem fim, felicidade sim". Talvez isso fosse verdade. Saiu pelas ruas a olhar as pipas no céu, bailando um baile graciosíssimo. Teve medo, tentou fugir daquela felicidade evidente, pois o fim dela seria muito doloroso, se escondeu, mas não pode escapar à outra das suas investidas: Embaixo de sua cama, onde se escondia, Dionísio presenciou as formigas trabalhando.
- Saia daí Dionísio! Venha almoçar!
- É pra já Dolores.

2 comentários:

Bernardo Acácio disse...

Gostei, gostei, gostei muito.

Milena Leão disse...

Eu quero que este chegue logo!