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Nem sempre sou quem escrevo, mas sempre sou quem escreve.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

A caixa de sapatos (Continuidade do "Texto com fins de escândalo..." e "Meu aniversário de trinta e um anos")

Isso. E nesses dias eu abri aquela caixa de sapatos que eu guardava em cima do armário e não mexia há anos. Dezenas e Centenas e Milhares, Milhões de fotos dentro da caixinha. Bilhões de recordações. Todas elas ruins. Fotos me deixam realmente mal, de mal com os sorrisos. Todas me geram algum tipo de reflexão: Não reflexão no sentido convencional, mas sim no sentido literal. Eu me vejo nelas todas. Exceto por algumas que eu guardava dela. E me ver naquelas fotos, refletido, tal qual bobo da corte, palhaço de circo, rindo e fazendo as graças, não era agradável como pode ser para outros. Naquela caixa de sapatos eu me percebi doente. Doente ontem, doente hoje. Porém nunca havia parado para me perceber - tudo girava em torno da efêmera felicidade, do bem-estar que te corrói, te arruina com tijolos em punho. Olhas os tijolos, mira-os bem, junto ao cimento do chão e pensas: "Estou a construir-me", ou "Esse prédio há de crescer, hei de ser feliz assim". O bem-estar ataca-lhe os tijolos na cara e cospe no chão. O bem-estar volta para as fotos, retoma o lar em caixas de sapatos.

E é justamente quando abrimos a caixa de pandora que o monstro se liberta em forma de um sorriso no canto da boca. Seguido de uma conclusão desafortunada, uma percepção, um desatino, um desespero, e o choro incontrolável - precedido de uma forte pressão, como um embolado, na região da garganta, o marejar dos olhos e o impulso da alma para fora do peito -. E quando tudo parece que vai explodir, devido à pressão, ao impulso, o choro se faz, minuciosamente, curando o azulejo com doses homeopáticas de água e sal. O pranto desse reflexo é educado. É o pranto do espelhar-se, do perceber-se a si mesmo. Do ver-se nos olhos que o veêm, e o veêm, e o veêm...

Maldita caixa de sapatos! Por que fui guardá-la? Sejamos francos, eu sabia que esse momento iria acontecer, sabia que uma hora ou outra, eu iria entender que há um tumor maligno no meu peito, me corroendo, incurável! Há tempos já tentei me curar - que escândalo causei tentando dar cabo de minha vida. Devo tentar novamente? Sim! Não, tenho de viver. Talvez ainda haja esperança. Talvez um dia eu receba um nome, um reflexo verdadeiro, um que chore feliz, não que ria da própria desgraça.

2 comentários:

Stefan Rotenberg disse...

Tumores podem ser benignos, né? Né?
Né?

Carol da Matta disse...

O sentido de um texto não é inerente ao texto. Ele se constrói na interação texto - leitor - situação.

Para mim, esse é um texto sobre esperança.